No início deste outubro todos os pretendentes às candidaturas municipais, prefeitos e vereadores, devem estar em paz com a justiça eleitoral. Em sentido lato. Exatamente um ano antes das eleições. Apressam-se, por conseqüência, as pré-candidaturas e os processos de legalização de pendências junto ao TRE. O mais importante de todos é a legalização do PSD que aqui na Bahia é comandado pelo vice-governador Otto Alencar. Caso haja problemas com a legenda que nasce, já que o processo que definirá a sua criação será apreciado na próxima semana pelo Tribunal Superior Eleitoral, a política brasileira será fortemente abalada e, principalmente, a baiana, porque aqui está o núcleo mais forte do possível novo partido.
O crescimento baiano do PSD se deu a partir da adesão de políticos integrantes de diversas legendas que delas se afastaram para a sombra da provável agremiação, que nascerá governista tanto aqui como no plano nacional. Se der errado, porém, muitos políticos ficarão seriamente abalados. Aqui, a maioria dos partidos não aceitará o retorno dos adesistas. O PSD, se aprovado pelo TSE, ganhará forma, jeito, defeitos, além das nódoas dos demais co-irmãos. Nada de novo ou de positivo o partido agregará ao sistema político brasileiro. Será apenas mais um dentre os demais, que se misturam. São iguais nos vícios e defeitos. Nenhum, absolutamente nenhum, oferece atrativos ao eleitor consciente.
No rastro e na pressa da regularização de situações, a pré-campanha à prefeitura de Salvador ganha embalo, que será maior a partir de outubro. Estará regularizado (filiado) no PMDB o apresentador e ex-prefeito Mário Kertész, que por ora, como revela, não se decidiu se será ou não candidato. Tudo ficará na dependência de cenários futuros. Pretende, no momento, apenas ser quadro do partido dos Vieira Lima, Geddel e Lúcio, e, de resto, está feliz, segundo diz, na rádio Metrópole, que comanda com competência. Não é de o seu interesse precipitar nada.
De certo modo não se esperava outra postura de Kertész, político tarimbado e experiente que é. Se está fora não lhe faria bem entrar logo no jogo, posição que, de outro modo, se adequa aos políticos com mandatos, como ACM Neto, Nelson Pelegrino, Antônio Imbassahy, Edvaldo Brito e Alice Portugal. Precipitam-se também Bete Wagner e Andréa Mendonça, ambas interessadas em representar o PV, partido que já teve um charme maior. São esses os nomes que com maior importância se destacam.
Pesquisa recente liberada pelo deputado federal tucano Jutahy Magalhães demonstra que ACM Neto está em posição privilegiada em relação aos demais pretendentes, seguindo-se Antônio Imbassahy e Nelson Pelegrino. São nomes que estão há mais tempo no palanque. Curioso que esta situação é exatamente igual à da campanha eleitoral anterior, mudando-se Pelegrino por Walter Pinheiro enquanto João Henrique, então no PMDB, estava em quarto lugar. Com o desenrolar da campanha tudo mudou. O segundo turno foi disputado por Pinheiro e João, ganhando o que estava na quarta posição.
Essa pesquisa, realizada com cenários variados, não tem maior significado por ora, mas sinaliza para um fato: se Kertész se decidir pela candidatura, ele precisará ter uma estrutura que lhe traga benefícios, que não está presente na atual paisagem. Será a união dos partidos oposicionistas, especialmente PMDB, PSDB e DEM. Assim posto, Neto e Imbassahy teriam que se retirar. Difícil que ambos pretendam fazê-lo. Há razões lógicas, racionais, para refletir dessa forma. Imbassahy, que teve excelente votação para a Câmara dos Deputados, ainda precisa consolidar mais fortemente o seu nome no Estado. ACM Neto, um dos destaques da Câmara dos Deputados com trabalho eficiente que o coloca entre os melhores parlamentares, necessita materializar dois fatores: ter experiência como executivo, e nada melhor para isso começar pela prefeitura de Salvador como aconteceu com o seu avô, ACM, nos anos 60, e recuperar a imagem e o poderio do DEM na Bahia. O partido se enfraqueceu com a grande diáspora observada há pouco mais de três anos com a morte de Antônio Carlos.
Oposição na Bahia e no País, DEM e PSDB caminham na mesma trilha, no que difere do PMDB que é aliado de Dilma (mais forte do que o PT) e aqui é oposição a Wagner. Trata-se de uma singularidade bem brasileira, resultado do apodrecido sistema partidário. As legendas não têm conotação nacional. Mudam e ganham formas diversas nas unidades federativas, fato que já não mais confunde o eleitor. Comprova, apenas, a absoluta necessidade de uma reforma política, que teria seguramente entre os seus efeitos diminuir a cancela por onde transitam os corruptos, os gatunos presentes em todas as legendas. As que não os exibem é apenas por uma questão de oportunidade e do tamanho do partido.
Em retorno à sucessão municipal de Salvador, Kertész somente colocará seu nome se os diálogos interpartidários levarem a uma aliança das oposições, difícil como entendi no parágrafo anterior. As dificuldades são de tal maneira que ACM Neto já abriu o seu leque de desejo: se não for candidato a prefeito da cidade estará presente na campanha de 2014, na sucessão de Wagner, onde se espera que o nascente (será?) PSD mostre para que veio e que força terá.
Não é necessário acentuar, por ser dispensável, que só o tempo responderá os questionamentos que apresento nesta análise. O tempo moldará o cenário.
*Coluna de Samuel Celestino publicada no jornal A Tarde deste domingo (25).
Fonte: BN
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