Contra a corrupção, mobilização em formato 2.0

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SÃO PAULO – O que começou timidamente nas redes sociais e refletiu-se em caras-pintadas no Sete de Setembro pode ganhar contornos de um forte movimento da sociedade brasileira contra a corrupção, uma espécie de mini-Diretas Já. A opinião é do cientista político Claudio Couto, da FGV, para quem se desenha uma mudança do clima político no país – demonstrando uma intolerância dos brasileiros com atos de corrupção em qualquer esfera de governo.
Os milhares de jovens que protestaram pelo país afora na última quarta-feira já marcaram um novo encontro nas ruas no feriado de 12 de outubro. No Rio, a mobilização volta cedo, já em 20 de setembro.

– Pode ser cedo para dizer, mas essas mobilizações mostram um processo de mudança do clima político brasileiro. Nos últimos anos, a corrupção aumentou muito, embora os instrumentos de controle também tenham aumentado. Esse movimento pode crescer como uma versão das Diretas Já, mas em menor proporção – avalia o cientista político.

Perfil apartidário aproxima movimento das Diretas

Para Couto, o que aproxima o movimento atual das Diretas Já é “seu caráter mais difuso, sem perfil partidário”. Esse movimento anticorrupção nasceu longe dos tradicionais movimentos sociais e acabou fazendo frente a um protesto histórico brasileiro, o Grito dos Excluídos, realizado em todo o país no mesmo Sete de Setembro.

– É um movimento mais difuso, sem lideranças definidas. Tem bandeiras difusas também, mas pode se fortalecer buscando uma bandeira comum – explica Couto.

O cientista político aponta o que considera uma “bandeira comum” possível:

– A reforma do Código de Processo Penal. Todos querem punição para os corruptos e sabem que isso para nas inúmeras possibilidades que os criminosos encontram nos recursos judiciais.

A reforma do sistema de processos criminais não tem sido a única meta defendida pelo novo movimento contra a corrupção. Os jovens têm divulgado textos na internet e pintaram cartazes pedindo o fim do voto secreto e outros pontos da reforma política, como o voto distrital. Mas essa reforma, de acordo com o cientista político, não é uma bandeira que una as pessoas:

– A reforma política é muito mais controversa. Há quem defenda o voto em lista como forma de diminuir os gastos eleitorais, assim como o voto distrital. É uma bandeira que mais desagrega do que agrega as pessoas. Já a reforma do Código de Processo Penal atinge o interesse de todos, combatendo a impunidade.

Para Claudio Couto, o movimento apartidário contra a corrupção, essa espécie de “Diretas Já 2.0”, está longe de ser comparado ao falecido movimento Cansei, de 2007. O Cansei juntava lideranças empresariais e alguns políticos, chegou a realizar passeatas na rua, mas foi um balão de ensaio. Rapidamente se desfez:

– O Cansei era um movimento antipartidário, contra o PT e o governo Lula. Isso contribuiu para uma deslegitimação. Tinha lideranças definidas do meio empresarial. Agora, trata-se de um movimento mais difuso, descentralizado, impulsionado por uma parcela muito jovem do país que está se articulando pelas redes sociais. Isso pode ser importante para que esse movimento ande.

Fonte: O Globo

 

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