Covid-19: Brasil tem queda de casos e mortes, mas especialistas alertam para risco de repique

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Com a flexibilização das restrições, infectologista diz acreditar que as próximas semanas vão ser decisivas. Se a população abandonar os cuidados, situação pode ser ainda mais grave no mês de junho, alertam

Constança Tatsch

29/04/2021 – 04:30 / Atualizado em 29/04/2021 – 14:35

SÃO PAULO — Há uma queda real nos números de casos, mortes e internações por Covid-19 no Brasil. No entanto, especialistas dizem que não é hora de otimismo e alertam que, se a população abandonar os cuidados, pode haver um recrudescimento e situação ainda mais grave no mês de junho.

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Ontem foi o sexto dia de queda nas médias móveis de mortes, com -19% em relação a 14 dias atrás. A média móvel de casos, que vinha caindo, apresentou estabilidade, segundo dados do consórcio de veículos de imprensa.

Levantamento do Observatório Covid-19 da Fiocruz divulgado nesta quarta aponta queda no número de casos, mortes e ocupação de leitos, mas mostra também que os valores permanecem em patamares críticos.

O número de casos diminuiu a uma taxa de -1,5% ao dia, enquanto o de mortes foi reduzido a -1,8% ao dia. Segundo os pesquisadores que fizeram o levantamento, isso revela “uma tendência de ligeira queda, mas ainda não de contenção da epidemia”.

O estudo mostra ainda que a taxa de letalidade mais que dobrou, de 2% no final de 2020 para 4,4% na semana de 18 a 24 de abril. Para a equipe da Fiocruz, esse aumento estaria relacionado à sobrecarga dos hospitais.

E, apesar do menor número de mortes e casos, hospitais continuam lotados. Dez estados e o Distrito Federal têm taxas de ocupação de UTIs Covid superiores a 90%, outros dez apresentam taxas entre 80% e 89%, quatro estão na zona de alerta intermediária (entre 60% e 80%) e apenas dois estados estão fora da zona de alerta.

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Para Alexandre Naime Barbosa, chefe da Infectologia da Universidade Estadual Paulista, a principal razão para a queda nos casos e mortes é a adoção de medidas restritivas por estados e municípios entre março e abril:

— Quando veio aquela tsunami, muitas cidades fizeram um pseudolockdown. Depois de 14 dias a gente colhe os resultados.

Outros fatores influenciaram na melhora, segundo o infectologista. Um deles é uma imunidade coletiva adquirida após a exposição em massa à variante P.1, que levou a milhares de mortes. Segundo estudos, a proteção contra o coronavírus conferida pela infecção natural é de cerca de 80%.

Embora avance lentamente, a vacinação pode ter tido efeito. Até ontem apenas 14,5% da população tinha recebido a primeira dose, e só 6,9% a segunda. Pessoas imunizadas transmitem menos o vírus por não ficarem tão doentes: sintomáticos têm de três a cinco vezes mais carga viral e por isso transmitem com mais intensidade.

Semanas decisivas

Com a flexibilização das restrições, o infectologista diz acreditar que as próximas semanas vão ser decisivas.

Com base em dados do Instituto de Métricas e Avaliação em Saúde da Universidade de Washington, Barbosa traçou três possíveis projeções para o Brasil no dia 17 de junho: na mais otimista (com restrições e máscaras), haveria 1.068 mortes/dia. No cenário atual (com máscara e distanciamento, sem medidas restritivas), seriam 1.867 mortes/dia. No pior caso (baixa adesão às máscaras e ao distanciamento social), o número pode chegar a 3.165 mortes/dia — situação semelhante ou pior do que no pico dessa segunda onda.

— Não é que a flexibilização não deva ser feita, mas as regras têm que ser cumpridas, não pode virar a bagunça de novembro e dezembro. Se, nas próximas semanas, as pessoas usarem máscaras e mantiverem o distanciamento, os números continuarão caindo, mas, se banalizar, teremos um repique — diz Barbosa.

O sanitarista e professor da Faculdade de Saúde Pública da USP Gonzalo Vecina diz que o momento “não é de otimismo, mas de realismo”.

— Há queda em função do que fizemos no passado recente e, se todos estão na rua, vamos ver um recrudescimento a seguir, com um monte de gente doente daqui a pouco. Estamos perto do Dia das Mães e isso pode ser um matricídio — diz o sanitarista. — A variante P.1. continua solta. Se nós também estivermos soltos, vai ser um desastre.

Anteontem, levantamento do Imperial College de Londres mostrou, pela primeira vez desde novembro, a taxa de transmissão (Rt) menor que 1, o que indica tendência de desaceleração do contágio. O índice do Brasil nesta semana foi de 0,96. Nos dois relatórios anteriores, estava em 1,06.

Para a epidemiologista e reitora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, Lucia Pellanda, as medidas de restrição tiveram efeito.

— É hora de comemorar, mas não relaxar. Não acabou a pandemia, ainda temos níveis muito piores do que no pior momento de 2020.

Fonte: O GLOBO

 

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