Aguirre Talento-Colunista do UOL
04/04/2024 04h00
A empresária Cristiana Prestes Taddeo afirmou, em seu acordo de delação premiada, que a Polícia Civil da Bahia omitiu propositalmente o nome do então governador da Bahia, Rui Costa (PT), nos depoimentos que ela prestou sobre as fraudes no contrato de R$ 48 milhões para a compra de respiradores.
Foi o próprio Rui Costa, quando ainda governava o Estado, quem determinou a abertura de inquérito pela Polícia Civil sobre a compra dos equipamentos que jamais foram entregues. Este é um dos argumentos apresentados pela defesa de Costa, que é ministro-chefe da Casa Civil desde 2023, para negar envolvimento com o negócio que causou prejuízo ao erário.
Num dos anexos da delação — a que o UOL teve acesso —, Taddeo afirma que os delegados que estavam à frente da investigação baiana recusaram-se a transcrever as citações ao nome do governador nos termos de depoimento. A dona da empresa Hempcare, que recebeu os recursos e não entregou os respiradores, diz ter citado o petista “três ou quatro vezes”.
” Todas as vezes que eu mencionei o governador Rui Costa, os delegados que estavam me entrevistando minimizaram a sua participação dizendo que ele não tinha nenhuma culpa; que essas respostas se repetiram e, em algumas oportunidades, de forma agressiva; que então eu percebi que eles estavam protegendo o governador”
Cristiana Taddeo, em delação premiada.
Taddeo depôs à Polícia Civil da Bahia após ser presa temporariamente em junho de 2020. Ela foi libertada após cinco dias.
A empresária disse que a então delegada-geral adjunta da Polícia Civil da Bahia, Ana Carolina Rezende, acompanhou os seus depoimentos e era a que mais protegia o governador, além de outros delegados que também participaram dos interrogatórios.
Ela contou que, quando teve acesso aos documentos com os termos escritos de seus depoimentos prestados à Polícia Civil, não havia o nome do governador.
“Depois que eu fui solta e li os termos dos meus depoimentos que foram juntados ao inquérito, verifiquei que eles não traduzem na integralidade os fatos que eu narrei nos meus depoimentos; eu citei o nome do governador Rui Costa por volta de três, quatro vezes ao tratar sobre o contrato celebrado com o Consórcio Nordeste, principalmente sobre quem assinou o contrato, mas seu nome não constou nenhuma vez nos termos que foram juntados aos autos”
Cristiana Taddeo, em delação premiada
De acordo com Cristiana, a participação da então primeira-dama nos fatos investigados também foi retirada do depoimento.
“Eu também citei o nome da primeira-dama, Aline Peixoto, mas não há nenhuma menção a ela nos depoimentos escritos que foram juntados ao inquérito; eu, inclusive, destaquei que Cléber Isaac se apresentou como sendo muito amigo dela e os delegados fizeram perguntas a respeito, mas não há nada disso nos termos de depoimento juntados”
Cristiana Taddeo, em delação premiada
Nesta quarta-feira (3), UOL revelou que a delação de Cristiana Taddeo implicou Rui Costa em irregularidades no contrato para compra de respiradores. A revelação gerou pressão política sobre o ministro da Casa Civil, que chegou a procurar o presidente Lula para apresentar explicações sobre o assunto.
Em nota divulgada à imprensa, Rui Costa negou ter relação com irregularidades no contrato, disse que nunca tratou com intermediários sobre a compra dos respiradores e que “a condição vigente naquele momento” de pandemia era o pagamento adiantado dos contratos.
COMO A PF SUBSTITUIU A POLÍCIA CIVIL NA INVESTIGAÇÃO
Em junho de 2020, a polícia baiana e o Ministério Público Estadual deflagraram uma operação, que resultou na prisão de Cristiana Taddeo e outros suspeitos.
No mesmo período, a PGR (Procuradoria-Geral da República) abriu uma investigação preliminar para apurar a responsabilidade do governador baiano no caso.
Ao constatar que já existia essa apuração em andamento na PGR, a 2ª Vara Criminal Especializada da Justiça Estadual decidiu enviar o caso à competência do STJ (Superior Tribunal de Justiça) e da Polícia Federal. Por causa disso, o caso saiu da Polícia Civil.
MINISTRO NÃO QUIS COMENTAR
A assessoria de Rui Costa afirmou, nesta quarta-feira, que ele não comentaria as acusações de blindagem na investigação da Polícia Civil e que o ministro já havia se pronunciado em nota divulgada à imprensa.
Na nota, ele afirmou que trabalhou “incansavelmente para minimizar a perda de vidas humanas durante a pandemia da covid-19” e que determinou a abertura de investigação sobre o caso dos respiradores.
“Reforço que jamais tratei com nenhum preposto ou intermediário sobre a compra de respiradores ou de qualquer outro equipamento de saúde durante minha gestão. Nos duros anos da pandemia, as compras realizadas por estados e municípios no Brasil e no mundo foram feitas com pagamento antecipado. Esta era a condição vigente naquele momento”, disse Rui Costa.
O ministro ainda afirmou, na nota: “Desejo que a investigação seja concluída e que os responsáveis sejam punidos por seus crimes, não só do desvio do dinheiro público, mas também do crime absolutamente cruel de impedir, através de um roubo, que vidas humanas fossem salvas”
A ex-delegada-geral adjunta Ana Carolina Rezende não quis se manifestar sobre o assunto.
Reportagem
Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.
Com informações da UOL
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