Emílio Odebrecht Presidente do conselho de administração da Odebrecht
A imprensa, de uns meses para cá, vem dando grande destaque à escassez de mão-de-obra qualificada em vários setores da atividade produtiva no Brasil. Entretanto, não tenho visto, na mesma proporção, notícias sobre os investimentos que muitas empresas estão fazendo para qualificar trabalhadores.
Esse é daqueles movimentos discretos, mas com potencial para mudar a face de uma nação, porque a educação no e pelo trabalho é o tema contemporâneo mais estratégico para uma organização que tem os olhos postos no futuro.
Canteiros de obras, fábricas, campos agrícolas: onde quer que se reúnam pessoas para qualquer ação produtiva é essencial que alguma atividade de ensino-aprendizagem ali aconteça.
O processo educativo que se dá via trabalho é uma força que impulsiona a empresa no rumo da perpetuidade, razão pela qual várias delas o assumem como parte de sua essência.
Por outro lado, investir na educação de jovens e no aperfeiçoamento de profissionais das comunidades onde as empresas atuam transitória ou permanentemente é um dever de cidadania que proporciona um sentimento de autorrealização para as próprias empresas e para seus integrantes.
As que assim o fazem, se deram conta de que o trabalho, por si só, é um poderoso instrumento pedagógico. É trabalhando que as pessoas interferem na realidade ao seu redor, produzem alimentos, erguem cidades, geram riquezas. O trabalho é fator de transformação. Se mudamos o mundo através dele, nada mais lógico que também ele mude aquilo que somos.
A qualidade final de um produto ou serviço está ligada à qualificação do trabalhador responsável pelo mesmo. Tal qualificação é determinada pela formação intelectual e moral e pelo domínio da técnica específica que tem este profissional.
Sendo assim, o compromisso das empresas com a educação de seus integrantes, levado à prática de forma sistemática e estruturada, é parte do contrato que as mesmas assinam com seus clientes, sem esquecermos que quem ensina aprende e se recicla.
E há ainda a construção do caráter que se dá por esta via.
Educados na labuta diária atrás de objetivos, no companheirismo e na ética de seu ofício, homens e mulheres têm a oportunidade de se realizar profissionalmente, pelo domínio do seu saber e do seu fazer específico; economicamente, pela retribuição que obtêm,a partir da riqueza que geram, partilhando os resultados que produzem; e emocionalmente, pela plenitude que se alcança no ato de servir.
A educação pelo trabalho, por fim, é fator de preservação da cultura das organizações, que é o mais valioso dentre os ativos intangíveis.
Transcrito do Jornal ATARDE – Edição de 17/10/2010
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