Distanciamento da política pesa para o bem e para o mal na campanha de Bolsonaro
POR PAULO CELSO PEREIRA, DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os adversários de Jair Bolsonaro tentam há meses, em vão, desconstruir sua candidatura. Ironicamente, têm saído do próprio círculo de relações do deputado os golpes mais certeiros nas últimas semanas. Na noite de quarta-feira, foi a vez do vice Hamilton Mourão dar mais um: em um evento para dirigentes lojistas no interior do Rio Grande do Sul, criticou a existência do 13º salário e do adicional de férias dos trabalhadores.
General da reserva, Mourão ganhou proeminência depois do atentado sofrido por Bolsonaro em Juiz de Fora. Dois dias após o ataque, em entrevista à GloboNews, o vice levantou a possibilidade de o presidente eleito promover um “autogolpe”. Na semana seguinte, defendeu que uma nova Constituição poderia ser feita sem participação de eleitos pelo povo.
Os problemas, no entanto, não se restringem a uma relativização dos pilares democráticos. Antes mesmo do início da campanha, Mourão havia criticado a miscigenação brasileira, por ter unido a “herança do privilégio” ibérica, com a “indolência” indígena e a “malandragem” africana. Dez dias atrás, disse que as casas apenas com mães e avós são “fábricas de desajustados”.
Às falas de Mourão se somaram as polêmicas envolvendo o economista Paulo Guedes, que, na semana passada, defendeu a criação de um novo tributo semelhante à CPMF e o estabelecimento de uma faixa única de imposto de renda – que atingiria de forma idêntica os mais ricos e os mais pobres.
Uma marca da campanha de Bolsonaro é seu distanciamento da política tradicional. Isso pesa para o bem e para o mal. Se, por um lado, o ajuda a ganhar votos em tempos de rejeição aos políticos, por outro faz com que seu círculo próximo seja formado por pessoas sem discernimento do impacto que determinadas afirmações e propostas causam na maior parte do eleitorado.
Para agravar, Guedes e Mourão são figuras centrais de sua campanha. O primeiro, por ser apontado pelo próprio candidato como seu “Posto Ipiranga”, ao qual recorrerá em qualquer questão econômica. O segundo, por ser seu sucessor em qualquer eventualidade. E nunca é demais lembrar que desde a redemocratização, em 1984, três dos cinco presidentes eleitos acabaram dando lugar a seus vices. As exceções foram Fernando Henrique e Lula.
Mais chumbo grosso
A reportagem de capa da revista Veja desta semana traz graves acusações contra o capitão reformado. Trata-se de trechos do processo de disputa da guarda do filho que teve com a ex-mulher Ana Cristina Valle, no qual ela afirma que o deputado ocultou patrimônio e tinha renda maior que a declarada.
Convence o eleitor?
A pesquisa Datafolha que será divulgada hoje à noite dirá se a disseminação da campanha #Elenão nas redes e as propagandas de TV de Geraldo Alckmin impactaram o eleitor bolsonarista.
Fonte: O GLOBO
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