A greve de caminhoneiros que instalou o caos no país promete jogar no cerne do debate eleitoral o modelo de gestão da Petrobras, as prioridades orçamentárias do governo e a organização tributária. Na noite desta quinta-feira, o governo ajoelhou-se ante a pressão dos caminhoneiros e fechou um acordo que vai impor, só neste ano, um gasto de R$ 4,9 bilhões à Viúva.
Desde a aprovação do teto dos gastos públicos, em 2016, o orçamento passou a funcionar permanentemente como um cobertor curto. Para dar dinheiro a uma área, é preciso dizer qual setor do governo sofrerá cortes. O acordo de ontem não se encaixa nesta regra, por ter caráter excepcional, mas, se o próximo presidente quiser manter uma política pública de subsídios, precisará dizer de onde vai cortar.
Até o momento, os candidatos ainda reagem com tibieza quando indagados sobre qualquer ponto específico de suas plataformas econômicas. Os principais nomes da disputa, ao serem questionados sobre a reforma da Previdência, por exemplo, preferiram tergiversar e emitir juízos genéricos.
A greve desta semana impõe aos candidatos começar a pensar, e explicar, qual será a interferência de sua gestão sobre a Petrobras, especialmente em relação à liberdade para definir o preço dos combustíveis. Ciro Gomes, por exemplo, foi ao Twitter dizer que a alta dos combustíveis “praticamente nega a razão de ser da própria existência institucional da Petrobras” – sinalizando que pretende intervir na estatal, sem detalhar, no entanto, a forma.
Geraldo Alckmin, por sua vez, defendeu a manutenção de Pedro Parente no comando da empresa, mas ressaltou a necessidade de reajustes mais espaçados e de diálogo do governo com os caminhoneiros. Da cadeia, Lula quis surfar no tema, mas sem apresentar soluções. Jair Bolsonaro , por sua vez, se solidarizou com os caminhoneiros – igualmente sem dizer como resolver a questão do preço dos combustíveis no longo prazo.
Parte intrínseca do problema, a barafunda tributária brasileira é outro tema que precisa ser abordado de frente nos próximos meses. A reforma, que precisa envolver estados e municípios, é aguardada há décadas, mas nunca chegou perto de sair do papel. Hoje, há muito mais perguntas que respostas. A expectativa dos eleitores é que nos próximos meses esse cenário mude.
Dada a largada
Demorou, mas a batalha pelos votos da centro-direita começou. Patinando há meses nas pesquisas, Alckmin decidiu esta semana abrir mão do estilo chuchu para atacar Bolsonaro. A troca de farpas, que começou em um evento em Brasília, acabou migrando para as redes sociais.
Acusado pelo tucano de ser historicamente alinhado ao PT no campo econômico, Bolsonaro reagiu dizendo que não aceitou propina do PSDB para votar pela reeleição. Alckmin não se fez de rogado e divulgou reportagens que mostram a evolução patrimonial do ex-militar. A briga está só começando, e a tendência é que piore bastante.
Autor:
Paulo Celso Pereira, Diretor da sucursal de Brasília de O Globo
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