Em entrevista à Folha, Wagner atribui a parte dos policiais grevistas alguns dos assassinatos

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GRACILIANO ROCHA (DE SALVADOR) FÁBIO GUIBU (ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR), Folha

wagnerO governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), disse ontem que os métodos usados por uma parte dos grevistas da Polícia Militar do Estado são “coisa de bandido”.

O petista se referia ao uso de armas para tomar ônibus e bloquear vias e também atribuiu à parte dos policiais do movimento alguns dos assassinatos nos últimos dias.

O governador negou ter sido omisso no episódio da deflagração da greve de PMs que gerou uma onda de mortes e de saques em Salvador.

Wagner, que acompanhava a presidente Dilma Rousseff em viagem a Cuba quando a paralisação estourou, admitiu que o governo foi surpreendido pelo tamanho do movimento grevista.

O governador afirmou que a greve na Bahia está sendo orquestrada nacionalmente para pressionar a aprovação da PEC-300, a proposta de emenda constitucional que cria um piso nacional para os policiais.

Ex-sindicalista, o petista disse que não vai oferecer nenhum aumento além dos 6,5% já dados ao funcionalismo em 2012 e é contra anistia a policiais envolvidos em atos de vandalismo.

Folha – Esta greve poderia ter sido evitada?

Jaques Wagner – Isso é mais levante do que greve, pelo jeito como foi feito: caboclo põe dois “berros” [armas] na cintura, tira população de dentro de ônibus, agride as pessoas, interrompe o trânsito. Têm por obrigação legal garantir a ordem pública e estão fazendo o contrário. Esse movimento tem esse caráter nacional: tem uma direção nacional, uma cartilha cujo objetivo é a votação da PEC-300.

Mesmo com motivação nacional, houve uma adesão forte dos PMs daqui por melhores salários.

Quem não quer ganhar mais? Todo mundo quer, mas precisa saber da legalidade e das consequências. Não é pouca coisa o aumento de 30% acima da inflação que policiais tiveram em cinco anos.

No momento em que a greve foi deflagrada, o Sr. estava em Cuba. O Sr. foi surpreendido?

Eu estava monitorando. A Assembléia [de grevistas] foi dia 31 à tarde, cheguei na madrugada do dia 2. Havia autoridade aqui. Tinha o governador em exercício e o secretário de Segurança. A primeira ligação que eu recebi foi informando que a assembléia deu mais gente do que eles achavam que ia dar. A avaliação que as estruturas de segurança tinham [do movimento] não se confirmou na assembléia. Isso é fato.

O governo não negocia com a Aspra (entidade que lidera a greve) por isso?

É a associação que tem o menor número de associados.

Mas tem o controle do movimento. O Sr. já foi sindicalista. Não é um equívoco não negociar com quem lidera?

Não acho que a categoria tenha apreço por essa liderança. Ninguém do governo vai receber o [presidente da Aspra, Marco] Prisco. Ele está com ordem de prisão decretada.

Em 2001, quando a PM parou por duas semanas e também houve uma onda de violência na Bahia, o Sr. era de oposição e apoiou o movimento.

Eu não.

O partido do Sr. apoiou.

Vários parlamentares apoiaram, eu não apoiei. Eu entrei para negociar e ajudar a sair da greve.

Pode haver invasão da Assembléia, onde estão acampados os líderes do movimento?

Invasão, não, porque é um prédio de outro poder [Legislativo]. Mas o próprio poder está incomodado com a presença de pessoas com ordem de prisão sentadas ali.

O Estado baiano ou as Forças Armadas irão prender essas pessoas?

Tem uma ordem judicial para ser cumprida. A estrutura militar e policial está montando uma estratégia para cumprir a ordem.

O sr. pode anistiar os grevistas?

Não vou assinar anistia nenhuma a quem cometeu crime, invadiu ônibus, matou mendigos ou moradores de rua, como foi feito. A figura da anistia não existe, ela só existe quando se encerra um regime de exceção. Não estamos em um regime de exceção. Anistia é presente e estímulo a esse processo.

O Sr. tem informações concretas que grevistas mataram pessoas?

Óbvio que não tenho prova. Como a estratégia deles é a criação de pânico, é muito estranho que nesses dias morram moradores de rua na proximidade da associação deles. Você pode perguntar se estou sendo leviano. Estou falando de uma suspeita; será acusação se a gente conseguir provas.

O governo pode fazer alguma concessão para encerrar o impasse?

Não tem acordo. Não dá para a gente ficar alimentando isso como método de reivindicação salarial. Isso não existe. Qual é a segurança que posso lhe dar amanhã se é a polícia quem está tirando cidadão de ônibus? Isso é coisa de bandido. Estou falando até como ex-grevista.

Os militares darão segurança ao Carnaval de Salvador?

Ainda estamos a 10 ou 11 dias do Carnaval. Não há hipótese de esse planejamento da PM para o Carnaval não ser cumprido. Até lá estará acabado esse processo [de greve].

O Sr. vai cortar o ponto de quem aderiu à greve?

Há uma separação gritante entre os marginais, que estão cometendo esses troços, de quem está querendo ganhar mais e aderiu. Tenho de separar o joio do trigo. Quem cometeu crime vai responder na Justiça. Para os outros, não, [o corte de ponto] será instrumento da negociação do comando da PM com eles.

Fonte: Política Livre

 

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