Entenda o que dizem os números das pesquisas eleitorais

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Por: Larissa Oliveira, do A TARDE On Line

Margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos, arredondamentos e empates técnicos. Muitas vezes, os números das pesquisas de intenção de voto, que tanto influenciam a decisão do eleitor, complicam o que parece óbvio. No entanto, com as devidas informações e cuidados com os detalhes, é possível interpretar de maneira fácil e correta as sondagens eleitorais.

Um exemplo simples que pode ter causado confusão na cabeça de muitos eleitores foi o resultado da pesquisa Vox Populi para governador da Bahia do dia 16 de agosto. A pesquisa informava que o governador candidato à reeleição, Jaques Wagner (PT), seguia na liderança com 45% e com este resultado poderia ser eleito no primeiro turno. No entanto, de acordo com a Constituição Federal, candidatos a cargos majoritários, como presidente e governador, precisam alcançar 50% mais um dos votos válidos — tanto no primeiro quanto no segundo turno — para vencer uma eleição.

No caso da Vox Populi do dia 16, foram incluídos os chamados votos inválidos — nulos e brancos — que, desde 1996, quando foi regulamentado o uso da urna eletrônica, não são contabilizados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no resultado da eleição. Levando em conta apenas os votos válidos, Wagner seria eleito no primeiro turno porque atingiu número superior ao somatório dos outros candidatos citados — 24% (Paulo Souto – DEM) e 9% (Geddel Vieira Lima – PMDB), como explica o diretor presidente da Vox Populi, João Francisco Meira.

“Quando um candidato alcança um percentual de intenção de voto maior que a soma de todos os demais candidatos, e se esse valor estiver acima da margem de erro da pesquisa, pode-se admitir a possibilidade de vitória no primeiro turno”, esclarece.

Margem de erro – A tal da margem de erro também é motivo de confusão, já que elas variam de pesquisa em pesquisa. De acordo com o IBOPE, ela existe porque o número de entrevistados nunca corresponde ao número total de eleitores. Assim, a margem de erro é calculada de acordo com o tamanho da amostra e dos resultados obtidos na pesquisa. Quanto mais dividido for o eleitorado (por sexo, nível de instrução e faixa de renda, por exemplo), mais preciso será o resultado.

Já os arredondamentos, que fazem com que o somatório dos resultados de algumas pesquisas ultrapasse o universo de 100%, fazem parte das regras básicas de estatística e servem para simplificar os dados. Desta maneira, as percentagens que variam entre 0,0% e 0,4% são arredondadas para 0% e as que vão de 0,5% a 0,9% para 1.

“Existem duas possibilidades para a soma dos percentuais ultrapassar 100%. A primeira delas é quando a pergunta permite que o entrevistado escolha mais de uma alternativa de resposta. A segunda é devido a arredondamentos matemáticos”, acrescenta Márcia Cavallari, CEO do IBOPE Inteligência.

No entanto, de acordo com o cientista político da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Joviniano Neto, mesmo com os arredondamentos, que não são obrigatórios, o somatório de uma pesquisa não deve ultrapassar 101%. “Como são dois votos para senador, a soma desses candidatos tem que ser de 200%. Para governador e presidente, o somatório não deve chegar a 1% a mais. Se chegar é porque há algo errado”, adverte.

Particularidades – Joviniano Neto explica ainda que cada instituto de pesquisa tem seu método de coleta e que, por isso, os resultados tendem a ser diferentes. “O Datafolha entrevista as pessoas em movimento nas ruas, e isso exclui quem não está circulando no momento. O IBOPE coleta a partir da divisão geográfica em distritos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Já outros usam os dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ou seja, a medologia varia bastante”, exemplifica.

Além disso, a dificuldade de acesso a algumas localidades e a ordem das perguntas também podem interferir nos resultados. “Isso até já deu briga entre os institutos. Um deles perguntava primeiro ao eleitor qual sua avaliação do governo Lula e, em seguida, coletava o voto para presidente. Claro que esta ordem poderia puxar votos para a candidata Dilma Rousseff (PT). Outra pesquisa espontânea não considerava votos para Dilma quando o entrevistado respondia que votaria ‘no candidato de Lula’. Se esta pesquisa tivesse computado votos para a petista, talvez o empate técnico entre ela e Serra não tivesse existido”, completa.

 

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