Combina com a personalidade de Dilma pedir a Lula que desembarque em Brasília para ajudá-la a salvar Antonio Palocci, chefe da Casa Civil, suspeito de tráfico de influência, e acalmar o PT e os demais partidos aliados insatisfeitos com o seu governo?
Não combina. Seria admitir que não tem competência para enfrentar crises políticas. Que não estava preparada para ocupar o cargo.
Combina com Lula, que monitora todos os passos do governo, chamar a atenção de Dilma para as dificuldades políticas que ela atravessa e se oferecer para ajudá-la voando até Brasília?
Aí combina, sim. E diante do oferecimento, Dilma não tinha como dizer não.
O que ela talvez jamais imaginasse é que Lula acabaria sendo tão indiscreto como foi, a ponto de ter comentado com senadores do PT que Dilma não tem experiência política, e que ele a aconselharia a se comportar melhor.
Combina com a personalidade amena de Palocci, ainda mais de um Palloci enfraquecido, telefonar para o vice-presidente Michel Temer e ameaçar demitir os ministros do PMDB caso o partido não votasse o novo Código Florestal de acordo com a orientação do governo?
Palocci tem experiência de sobra para saber que a ameaça não funcionaria.
De resto, dependendo do PMDB, como depende, para não ter que ir ao Congresso explicar seu súbito enriquecimento, o que menos lhe interessava era trombar com o presidente licenciado do partido.
Trombou porque fez o que Dilma mandou. E ouviu de Temer o que não esperava ouvir.
A Dilma mais próxima da verdadeira Dilma é a que pensou em dobrar o PMDB via Palocci. Não é a Dilma que abandonou o proscênio para que Lula ali pontificasse alegre como um pinto no lixo
Há governos que começam antes da data marcada no calendário. Foi o caso, por exemplo, do primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso. Começou quando ele ainda era ministro da Fazenda e lançou o Plano Real.
Há governos que acabam antes da data marcada. Foi o caso do segundo governo de Fernando Henrique. Acabou quando ele desvalorizou o real tão logo foi reeleito.
O governo Dilma precisa começar de novo. Só depende dela.
Blog de Ricardo Noblat – O GLOBO
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