Estudo mostra que um terço dos baianos recebe Bolsa Família

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Mais de 1,4 milhão de baianos vive na extrema pobreza e 76% ganha menos de um salário mínimo. A situação faz com que um terço da população do estado receba Bolsa Família

 

Victor Uchôa e Luciana Rebouças

Almerinda dos Santos tem 61 anos. Todos os dias, deixa sua casa em busca de comida para os seis netos que cria e, se der, para ela própria. Desce 18 degraus, cruza uma viela e sobe mais 90 degraus até o largo da Escola Teodoro Sampaio, em Santa Cruz. A quantidade de degraus é o menor dos problemas de Almerinda. Para comprar comida, ela só conta com R$ 38. Não é para o dia. É para o mês inteiro.

 

Somos 1,4 milhão de baianos extremamente pobres. Famílias que vivem com menos de R$ 67 (por pessoa) por mês. Como dona Almerinda. Os dados inéditos foram divulgados esta semana pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e fazem parte do estudo Perfil da Pobreza na Bahia e sua Evolução no Período 2004-2009.

Nos cinco anos, a Bahia avançou. O percentual de  extremamente pobres caiu de 16% para 10%.  A melhoria, porém, não tira do estado a liderança em números absolutos de pobreza extrema – com quase 500 mil pessoas a mais do que o segundo colocado – Pernambuco (926 mil).

O coordenador de Informações do IBGE na Bahia, Joilson Rodrigues, diz que a redução no percentual da pobreza tem duas  razões: a valorização do salário mínimo e a transferência de renda por programas sociais, como o Bolsa Família – que hoje atende mais de um terço da população baiana.

No total, são 5,4 milhões de baianos recebendo o auxílio. “É um número alto, mas necessário já que o Bolsa Família ainda não atende a todos os baianos em situação de pobreza”, acrescenta Pedro Souza, pesquisador do Ipea e um dos autores do estudo. No Brasil, 22% da população é atendida pelo programa.

Luta
Dona Almerinda vive do Bolsa Família. “Já vi a cara da fome, meu filho. E não foi pouco, não. Se tem comida, a gente come. Se não tem, a gente reza e espera Deus mandar”, diz a idosa, sem perder a firmeza da voz. Em casa, 1 kg de feijão, 1kg de arroz e 1kg de carne são consumidos em um dia. No mercadinho mais próximo da casa de dona Almerinda, na Rua 11 de Novembro, o quilo do feijão custa R$ 4,49. O do arroz, R$ 1,69. A Cruz Machado – “que é a carne que a gente bota quando dá”, sai por R$ 11,20. Ou seja,  para a família fazer uma refeição, gasta-se R$ 17,38, quase metade do que se tem para 30 dias.

A ex-catadora de material reciclável se vira como consegue. Na igreja que frequenta, a Assembleia de Deus, recebe doações esporádicas. Uma das filhas, a líder comunitária Leozana Santos, também ajuda quando sobra alguma coisa do salário mínimo que recebe como servente da Câmara Municipal. “Quando não tem de onde tirar, peço aos vizinhos”, conta  Almerinda.

Dos seis netos que moram com ela, cinco ficaram sob sua responsabilidade há três anos, quando a mãe das crianças foi morta pelo próprio marido. Foi aí que ela teve que largar o trabalho de catadora, de onde tirava R$ 60 por mês.

 

Fonte: Correio da Bahia

 

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