Eu sou do bem ou sou do mal?

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iLembram de um amigo que encontrei na frente do Acre que me disse João “eu quero minha feira de volta”? Pois é, encontrei-o novamente e ele veio logo me perguntando: João “eu sou do bem ou sou do mal?”. Eu disse: como assim? não estou entendendo!

Ele me explicou que a prefeita vem distinguindo os cidadãos euclidenses entre pessoas do bem e pessoas do mal. E ele estava na dúvida quanto a sua classificação. Ele me disse que a prefeita não satisfeita em distinguir as pessoas, resolveu distinguir também os programas de rádio. O programa dela se chama “Programa do Bem – Junto com Você”.

Fiquei preocupado e curioso em entender os critérios adotados pela prefeita para classificar as pessoas e os programas de rádio como sendo do bem ou do mal.

Meu amigo, muito religioso, me dizia que Santo Agostinho, antes de se converter ao catolicismo, pertenceu à seita herética dos Maniqueus. Esta seita defendia um dualismo absoluto, dizendo que havia dois princípios na origem de todas as coisas: o Bem e o Mal. Santo Agostinho discordava dessa teoria. Ele sustentava que o Mal absoluto não existe enquanto ser ou coisa.

O que existe é o mal moral, isto é, o mal enquanto ação. Roubar, assassinar, mentir, caluniar, etc. são males morais, são ações más. Então não entendo como a prefeita pode classificar as pessoas e as coisas como sendo do bem ou do mal! Será que ela sabe das ações e da conduta de todas as pessoas?

Concordei com os argumentos do meu amigo e disse-lhe então que ele não precisava se preocupar, pois ele era do bem. Contudo, ele não se conformava e continuava a se questionar e queria saber o que a prefeita achava dele.

Eu não tinha argumentos que pudessem o convencer, então lhe perguntei: você votou na prefeita? Se votou, você é do bem! Ele respondeu que a família dele votou, mas ele não. Tentei explicar que essa idéia de dividir o mundo entre o bem e o mal é uma bobagem, é um delírio. As pessoas não se confessam à prefeita, logo, ela não tem condições de julgar a conduta de ninguém. Porém ele continuava insistindo em saber se ele era do bem ou era do mal.

Mais uma vez, tentei lhe ajudar. Talvez ser do bem é não contrariar, não discordar. Ser do mal, talvez, é tudo aquilo que constitui obstáculo ou contradição. Ou seja, contrário do bem.

Num último esforço para conseguir uma resposta para ele, eu disse que tinha dúvidas se a prefeita era do bem ou do mal, pois não acho correto classificar, rotular ou discriminar as pessoas. Sugeri então que fossemos perguntar ao padre para que ele nos dizesse quem é do bem ou do mal. Para minha surpresa, ele me perguntou: e o padre é do bem? Foi aí que eu desisti e lhe disse: olha quer saber? É melhor perguntar a prefeita!

Autor: João de Tidinha

 

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