Eventual governo Michel Temer causa expectativa na Bahia

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Biaggio Talento

A dinâmica da política transforma situação em oposição e vice-versa num piscar de olhos, como deve ocorrer se o vice-presidente Michel Temer (PMDB) assumir a titularidade do Palácio do Planalto com o provável afastamento por 180 dias da presidente Dilma Rousseff (PT), após votação no Senado marcada para ocorrer no início de maio.

Autores como o britânico George Orwell, no seu clássico livro  1984, indicaram que, na história, esse movimento “giratório” entre as elites políticas de uma sociedade, que se alternam no comando, é cíclico.

Enquanto o governo estadual, comandado por Rui Costa (PT), ligado politicamente ao federal – e que depende de verbas da União – espera que o tratamento seja “republicano” com Temer,  como seria o de Dilma em relação aos governantes de todos os partidos, a prefeitura de Salvador, capitaneada por ACM Neto (DEM), acredita que a troca de figuras em Brasília mudará a postura do  Planalto de “água para vinho” em relação à capital baiana.

No momento, o discurso do governador Rui Costa é de enfrentamento, diante de sua indignação pelo processo de impeachment de Dilma, que ele considera um “golpe”.

Ele usou palavras duras para se referir a Temer, com quem pode ter de conviver nos próximos seis meses.

O chamou de “traidor” e “golpista”. Disse que a Bahia “não se curvará” ante o peemedebista. “A Bahia tem uma história, ao longo de alguns séculos, de resistência, de não ficar de joelhos, afinal de contas os portugueses saíram daqui expulsos no dia 2 de julho pelos baianos e baianas, portanto a Bahia não se rende, não se renderá, continuará de pé”.

Justifica a importância do estado entre os entes da Federação. “A Bahia é o quarto colégio eleitoral, é a quarta população do País, tem um povo forte e vigoroso, não temos qualquer receio, vamos continuar trabalhando. Acredito muito no ditado que o senador Otto Alencar (PSD) gosta muito de repetir: nada resiste ao trabalho. Brinco com as pessoas assim, meu nome é trabalho, meu sobrenome é hora extra. Então, temos que trabalhar bastante e nada vai superar o trabalho”.

Sobre o posicionamento do provável novo ocupante do Palácio do Planalto, espera “o tratamento que a Bahia merece, seja quem for até porque, repito, o País vai passar por um momento muito difícil porque hoje, mesmo quem votou no impeachment, vários partidos e parlamentares, já se mostram assustados e questionando. Eu vi o partido Rede questionando a legitimidade do vice-presidente governar o Brasil durante seis meses. Infelizmente, o Brasil, em vez de buscar soluções rápidas, está constituindo processos de crises mais demorados”.

Coisas facilitadas

O prefeito ACM Neto acredita que as relações da presidência da República com Temer  mudarão radicalmente. “Que serão melhores não tenho dúvida, pois pior não podem ser. De fato, temos sim uma boa expectativa com relação ao relacionamento da prefeitura com Michel Temer. Esperamos que as coisas facilitem bastante em relação ao governo federal, até porque ele participou diretamente, foi avalista de diversos compromissos da União, no ano passado, com a cidade de Salvador, que deveriam ter sido honrados pela Presidência da República e não foram”.

Conforme Neto, Temer conhece “com detalhes a agenda de prioridades da prefeitura”.

Ponderou, todavia, que não se pode criar “uma falsa expectativa de que ele vai sentar na cadeira e terá condições de ir resolvendo tudo, não é assim, a gente tem essa compreensão, existe uma agenda maior do Brasil que precisa ser tratada e ele vai ter muito pouco tempo para colocar as coisas em ordem e teremos que dosar as expectativas”.

Neto disse que não vai “reivindicar cargos e nomeações”, apesar de ter orientado a bancada do DEM a votar em favor do impeachment. “Minha demanda vai estar toda concentrada nos investimentos, nos recursos, na ajuda para a cidade”.

Citou que entre as pautas de Salvador estão recursos para a saúde, o projeto do BRT, as operações de crédito para a prefeitura no Prodetur, Banco Mundial e outros. “Estamos discutindo com o Banco do Brasil, por exemplo, financiamento para a construção do Hospital Municipal, e isso deve ser solicitado”.

Por outro lado, lembrou que a Lei Eleitoral proíbe alguns convênios em ano de eleição, como é 2016.

“Estamos analisando isso. Talvez já não possa ter a assinatura do BRT, mas a nossa preocupação é que a prefeitura, a curto e médio prazo, tenha um tratamento melhor, diferente do que  teve com o atual governo”.

Busca de recursos

Responsável por articular a canalização dos recursos federais para obras importantes na Bahia, o chefe da Casa Civil do estado, Bruno Dauster,  que esteve em Brasília essa semana, “assim como nas outras”, explicou que tem visitado a capital federal continuamente desde que a crise fiscal “se agudizou”, minguando as verbas de investimento.

Lembrou que as obras do metrô de Salvador recebem recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e do Orçamento Geral da União, que estão com fluxo normal, mas “qualquer projeto sempre tem problemas, a gente tem que brigar para garantir que os problemas sejam os menores possíveis”.

Em relação à Ferrovia Integração Oeste Leste (Fiol), que foi praticamente paralisada pelos cortes do governo federal, disse que o projeto  ganhou um novo alento após a viagem de Rui Costa à China.

“Fechamos protocolo de intenções com uma empresa chinesa que deseja fazer os investimentos em troca de direitos de passagem, que é uma modelagem já utilizada no Brasil. Em se concretizando isso, nós retomamos a Fiol em questão de meses e, junto com ela, a gente começa o Porto Sul para cumprir o que se prometeu de transformar esses projetos em realidade”.

Dauster disse que a Bahia “está acostumada, nos últimos dez anos, desde que começou o governo de Jaques Wagner, a ter uma gestão republicana: significa que você trata adversários e aliados,  quando são questões de estado e administração, com a mesma equidade”.

O Chefe da Casa Civil citou que o prefeito de Salvador ACM Neto se queixou de ter sido punido ao não receber as verbas do BRT. “Ele poderia ter dito que o aliado da presidente Dilma também não recebeu as verbas do VLT e do Canal do Sertão e nem por isso foi punido”.

A crise foi “republicana” na visão de Dauster. “Não havendo recursos para um, não houve para outro. Quando há para um há para o outro”.(atardeonline)

 

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