O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) deve ser o vice na chapa
Por Gustavo Schmit e Bruno Abbud — Brasília
09/06/2022 16h27 Atualizado há 2 horas
Após meses de impasse em torno de uma candidatura presidencial, a executiva nacional do PSDB aprovou, por 39 votos a seis, nesta quinta-feira o apoio ao nome da senadora Simone Tebet (MDB-MS) para ser a representante da terceira via na corrida ao Palácio do Planalto. O vice deve ser o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE). Os deputados Aécio Neves, Paulo Abi Ackel, Eduardo Barbosa, Alexandre Frota, o senador Plínio Valério e o ex-deputado Rossoni votaram contra. A única abstenção foi do ex-prefeito de Porto Alegre Nelson Marchezan, que é aliado do ex-governador Eduardo Leite.
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O presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, informou que a tendência é que Tasso seja o vice, mas deixou o claro que o PSDB ainda discute o nome que vai indicar para composição.
— O nome do senador Tasso é um dos mais relevantes dessa construção, mas nós temos que lembrar também as alternativas. Temos a senadora Mara Gabrilli, ex-governadores nossos que também podem estar à disposição, e as bancadas de deputados federais e senadores. Mas o senador Tasso é o que tem de melhor na história do partido.
Embora a maioria das lideranças sejam favoráveis a Tebet, alguns caciques do partido manifestaram contrariedade com a aliança. O ex-governador de Goiás Marconi Perillo, o senador Aécio Neves, de Minas Grais, e o ex-deputado Nelson Marchezan, do Rio Grande do Sul, estão entre os integrantes do partido que pedem candidatura própria.
O mais incisivo foi Aécio que, durante a reunião da executiva, lembrou que a posição ainda precisará ser referendada pela convenção nacional do PSDB, entre julho e agosto. Ele ainda alertou que o apoio a Tebet pode ser apenas formal e não se reverter em endosso real nas eleições dos Estados.
— Já estamos assistindo a candidatos do PSDB optando entre as candidaturas do presidente Bolsonaro e do ex-presidente Lula. Tudo que quisemos evitar até aqui foi justamente essa antecipação do segundo turno nas bases do PSDB.Vejo que nomes relevantes do PSDB que disputarão as eleições terão muita dificuldade de transformar um apoio formal em apoio eleitoral efetivo, até pelo antagonismo que tem com o MDB em inúmeros estados, como Minas Gerais, Goiás, Pará e Bahia —alertou Aécio.
Marconi Perillo disse que, caso não haja candidatura presidencial própria do PSDB, muitos quadros do partido se sentirão “brochados”.
– Como militante, serei fiel às decisões do partido, mas diria que haverá uma frustração muito grande por parte de alguns se o PSDB abdicar do direito de lançar candidatura própria. Para não dizer que vai brochar todo mundo — disse o político, que não faz parte da executiva nacional nem tem direito a voto. — O clima é o seguinte, alguns de nós vamos ficar brochados se acontecer isso [aliança com Tebet], eu mesmo…
Como Aécio Neves, Perillo também deixou clara sua preferência pela candidatura de Eduardo Leite:
— Não sou da executiva, mas tenho história no partido e defendo essa tese [da candidatura de leite] há muito tempo. Acho que não deveria ter havido nem discussão em relação a isso, apenas convocar o Eduardo Leite. Chama o Leite. Ele é jovem e muito bem preparado e tenho certeza de que se fosse chamado, aceitaria ser candidato.
Nas redes sociais, Tebet disse que recebeu com “alegria” e “imensa honra” o apoio do PSDB e prometeu trabalhar para “reconstruir o Brasil”.
— Este é um reencontro do centro democrático não agendado pela história, mas exigido por ela. No passado, democracia, cidadania, justiça social. Hoje, pelos mesmos valores e com a mesma urgência, unimos forças por um Brasil sem fome e sem miséria. Sabemos da responsabilidade. Estamos prontos. Com coragem e amor, vamos reconstruir o Brasil.
Ainda que o clima no PSDB esteja longe de ser de unidade, Araújo adotou tom de conciliação e disse que a votação que escolheu Tebet “afasta qualquer discussão sobre divisão interna no partido”. Segundo ele, agora o foco é “quebrar a polarização” e apresentar um projeto ao país para a redução das desigualdades sociais e geração de empregos.
— O PSDB retirou de uma longa discussão um resultado poderoso em relação à decisão de seguirmos com a candidatura da senadora Simone Tebet, oferecendo o PSDB na vice como alternativa a quebrar essa polarização onde milhões de brasileiros esperam uma outra alternativa para votar no primeiro domingo de outubro.
Negociação nos estados
Nas últimas semanas, as negociações entre tucanos e emedebistas se arrastaram por causa de entraves regionais nas eleições dos estados. O principal empecilho era a disputa ao governo gaúcho, onde o MDB lançou como pré-candidato o deputado estadual Gabriel Souza. Inicialmente, os tucanos condicionaram a retirada da candidatura de Souza para que o MDB apoie o PSDB na eleição ao Palácio do Piratini, o que ainda não ocorreu. Pediram também reciprocidade do MDB em Pernambuco, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais, mas essas contrapartidas também seguem incertas.
Ainda assim, a unidade entre as duas siglas no Rio Grande do Sul ainda não está fechada. Um dos motivos que dificultam a coligação é a indefinição do ex-governador Eduardo Leite, que ainda não oficializou sua candidatura em busca de um segundo mandato. Leite renunciou ao governo em abril, já que sua preferência era por uma candidatura presidencial. Seu plano fracassou diante da insistência da candidatura do ex-governador João Doria, que venceu as prévias do partido. O paulista ameaçou judicializar para encabeçar a chapa de centro, mas depois desistiu por falta de apoio político. Ainda que haja uma ala tucana que defenda uma candidatura própria, Leite avalia que não há mais ambiente na sigla depois de tantas divisões internas e desgastes.
O aval do PSDB a uma chapa encabeçada por um nome de outro partido é visto internamente como uma mudança brusca na tradição da legenda, que desde a sua fundação, sempre teve representante na corrida presidencial. Em seis das oito disputas desde 1989, o PSDB foi protagonista, com duas vitórias e quatro segundo lugares.
O MDB e as outras siglas de centro como o Cidadania e até as que deram origem ao União Brasil (DEM e PSL) nunca desempenharam papel de destaque em eleições presidenciais. A única exceção foi o PSL, em 2018, com o presidente Jair Bolsonaro, que se filiou às vésperas da eleição e deixou a legenda ainda no primeiro ano de mandato.
Diante de uma crise interna sem precedentes e da perda de parlamentares bolsonaristas na última janela partidária, o PSDB, que perdeu identidade nos últimos anos, tenta recuperar sua relevância nacional. Agora, o foco do partido é aplicar a maior parte dos recursos eleitorais para a eleições da bancada no Congresso e dos governos estaduais, especialmente São Paulo. A sigla comanda o estado mais rico do país há 26 anos ininterruptos, mas desta vez vê o pleito em risco em meio a polarização nacional. O governador Rodrigo Garcia, que concorre à reeleição, ainda patina nas pesquisas de opinião e é desconhecido da maior parte da população. Além disso, ele tenta se descolar de Doria, já que a maior parte dos eleitores não estão dispostos a votar num candidato apoiado pelo antecessor.
Fonte: O GLOBO
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