Forró pé de serra foi excluído das festas de São João

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Por Gereba

O secretário Estadual de Turismo, ex-deputado federal Domingos Leonelli, fez o seguinte comentário durante o lançamento oficial do SÃO JOÃO DA BAHIA de 2009: “89% do turista que vem para o nosso São João prefere o Forró Pé de Serra”.

Ouvi e fiquei a me perguntar: se há um reconhecimento de que o Forró Pé de Serra é o ritmo mais puro da nossa tradição junina e que o turismo é uma vertente econômica importante no nosso estado, por que então os gestores da política cultural deixam de fora de suas programações oficiais justamente os forrozeiros pé de serra para contratar bandas que tocam lambadas e outros ritmos pré-fabricados para o consumo descartável e estimulam performances que desqualificam a nossa mais valiosa cultura nordestina?

Graças a esses gestores os novos ritmos criados para explorar as massas em outros “carnavais” agora tomam de assalto os espaços de raízes do nosso patrimônio cultural, e excluem aqueles que de fato produzem a cultura, que se preocupam em manter tradições culturais para não perder sua identidade neste mundo globalizado.

Vale ressaltar que os forrozeiros pé de serra sobrevivem justamente de contratos das festas de São João e, na medida em que são substituídos por aqueles que já têm contratos milionários durante o ano inteiro, no Nordeste, no Brasil e em outros países, têm vivido sérias dificuldades financeiras.

Neste sentido, constato aqui duas violências praticadas pela ausência de uma política cultural séria nos nossos municípios: contra a nossa cultura, quando deixam fora dos palcos o nosso tradicional Forró Pé de Serra e os substituem pelos milionários do Axé Music, por ex, e contra a sobrevivência daqueles que efetivamente produzem a cultura que, como disse o Secretário do Turismo, os 89% dos turistas que visitam o São João da Bahia vêm buscar (e nós, míseros nativos, também).

Assino embaixo o que nosso mestre DOMINGUINHOS disse em referência às novas bandas de Forró que estão no mercado descartável e se apresentam com nomes absurdos e desqualificantes: Esses caras tem que inventar outro nome para porcaria que fazem e deixar a nossa sagrada palavra “FORRÓ” com a gente que tem vocação, ama e sabe fazer FORRÓ de verdade.

Outro comentário do meu prezadíssimo amigo e companheiro Dominguinhos no jornal A TARDE do dia 22/6/2009, se refere á falta de respeito dessas bandas que apelam e desqualificam a imagem da mulher e ainda gritam para a platéia: “VAMOS VER AS RAPARIGAS TODAS DESSE LADO”. É muitíssimo provável que as mães, irmãs, esposas, amigas de alguns destes gestores pouco comprometidos com a cultura estejam lá.

Lembrando que na cultura do interior nordestino “rapariga” tem um sentido pejorativo e essas bandas quando o utilizam sabem bem o seu significado. Falta a estes gestores também visão econômica quando desconhece ou não leva em conta o gosto dos 89% dos turistas que preferem o PÉ DE SERRA, não fortalece e valoriza a sua cultura local, não produz seus valores artísticos e não tem compromisso com a identidade cultural do seu povo.

Já andei por este Brasil afora pesquisando nossas raízes culturais na busca dos elementos para fortalecer a música que produzo, que crio e que me alimenta a alma e o corpo. O Forró Pé de Serra é um dos estilos musicais que adotei como identidade cultural e pessoal. Convivi com os maiores forrozeiros deste país, em seus momentos de plenitude criativa quando lançamos em 1986 o CARNAFORRÓ (o primeiro trio a rodar na orla) com o nosso Rei do Baião dando origem ao consagrado circuito BARRA-ONDINA, assim como também nas suas dificuldades.

Incluo-me entre os indignados que Dominguinhos representa quando a expressa à grande imprensa. Posso dar meu depoimento pessoal sobre a questão em tela nas duas vertentes da violência cultural que me reportei acima: 1) Em 20 de junho p.p., fiz um show em nossa bela Lençóis para uma multidão, na sua maioria composta por turistas vindos de São Paulo, Rio, Minas e Aracaju. Foi reconfortante, com meu trio pé de serra “PAU DE ARARA”, poder animar aquela multidão que dançava alegre e harmoniosamente ao som do mais autêntico Forró Pé de Serra. Tivemos que voltar ao palco cinco vezes. 2) Até 2007 eu e o meu Trio fazíamos não menos que 14 shows durante o mês de junho, contratos firmados com Prefeituras das diversas correntes políticas do Estado da Bahia, do PT ao DEM. Este ano consegui apenas dois contratos, um em Lençóis, conforme relatei, e o outro em Salvador, dia 22, no Terreiro de Jesus, onde tive a honra e a oportunidade de lançar a “ZABUMBADA BRASILEIRA” (vários zabumbeiros juntos) homenageando e lembrando os “90 ANOS” o nosso Rei do ritmo JACKSON do PANDEIRO e “20 ANOS SEM O NOSSO REI DO BAIÃO”, homenageando o nosso ícone maior do Forró, Luis Gonzaga.

Mas é isso, manifesto o meu desapontamento com a gestão da cultura no meu Estado de origem. Continuarei na luta pela valorização, fortalecimento e afirmação da nossa cultura. Não poderia ser diferente, pois é esta a minha formação, está no meu DNA. Em setembro estarei mais uma vez em AUSTIN – TEXAS apresentando os shows-palestras “RETRATOS SONOROS BRASILEIROS” desta vez o “Retrato Sonoro do Baião” sobre a obra de Luiz Gonzaga, para, como sempre e com muito orgulho, afirmar ainda mais a nossa cultura brasileira e principalmente a nossa BAHIA.

Enquanto isso continua, toda sexta feira, no circo PICOLINO, o projeto “FORRÓ NO CIRCO”, recebendo sempre convidados especiais, comprometidos e engajados na luta pela cultura popular brasileira.

E como lutador aproveito para convidar os forrozeiros não apenas para compor os palco e picadeiro do Picolino, mas para fortalecer uma nova idéia de criação da “SOCIEDADE DO FORRÓ DA BAHIA”, a exemplo do que já existe em Pernambuco, onde os forrozeiros trabalham o ano inteiro e vivem do seu FORRÓ. Aqui na Bahia podemos fazer o mesmo e juntos cobrarmos mais espaço para o SÃO JOÃO 2010, continuar zelando e lutando pela preservação do nosso patrimônio imaterial que é o Forró.

Fonte: BahiaJá

 

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