Levantamento feito pelo GLOBO, o principal partido de esquerda caminha para disputar as urnas sozinho em pelo menos metade das 26 capitais do país
Rayanderson Guerra
12/07/2020 – 05:30 / Atualizado em 12/07/2020 – 12:48
Para além da fragmentação da oposição a Bolsonaro, o cenário a quatro meses das eleições municipais aponta para um isolamento do PT. De acordo com levantamento feito pelo GLOBO, o principal partido de esquerda caminha para disputar as urnas sozinho em pelo menos metade das 26 capitais do país (Brasília não tem pleito municipal). O panorama inclui Rio, São Paulo e Belo Horizonte. A direção petista busca viabilizar o maior número possível de candidaturas próprias nas capitais, mas enfrenta resistência de outras legendas de esquerda. Em vários casos, o PT também não está disposto a abrir mão da cabeça da chapa, o que dificulta as conversas.
O isolamento eleitoral petista provoca receios em dirigentes e é também resultado da estratégia adotada pelo ex-presidente Lula desde que deixou a prisão, em novembro do ano passado. Lula decidiu que o partido não abriria mão de candidaturas próprias nas principais cidades. Essa postura e o forte sentimento antipetista no eleitorado acabam afugentando potenciais aliados. Na centro-esquerda, as conversas para alianças estão paradas em São Paulo, Rio, BH e Fortaleza.
Em algumas capitais, os diretórios mantêm conversas com outros partidos, mas ainda aguardam o aval do diretório nacional. Em Porto Alegre, Florianópolis e Belém, o partido deve abrir mão de ter o candidato a prefeito e lançar nomes como vices. Na capital do Rio Grande do Sul, o PT decidiu lançar o ex-ministro do Desenvolvimento Miguel Rosetto na chapa de Manuela d’Àvila, que foi candidata a vice-presidente na chapa de Fernando Haddad (PT) nas eleições de 2018.
No Recife a situação é mais complicada. De um lado, o diretório nacional do partido quer Marília Arraes como candidata. Ela é uma das principais apostas do PT este ano. Já o diretório municipal do partido encaminhou uma resolução às lideranças nacionais em que pede que a decisão de lançar a neta de Miguel Arraes à prefeitura da capital pernambucana seja reconsiderada. Os petistas defendem uma aliança com o PSB e os demais partidos de esquerda.
De acordo com o doutor em Ciência Política Malco Camargos, da PUC-Minas, a estratégia do PT de lançar candidaturas próprias é uma forma de o partido de marcar posição e defender um posicionamento político contra o bolsonarismo:
Os embates entre o diretório nacional e os diretórios locais é resultado da diferença do que o partido pensa no macro e no micro. As lideranças locais tendem a fazer coalizações buscando maximizar as chances eleitorais, enquanto quem pensa o partido no nível macro, pensa na possibilidade da defesa de um posicionamento político, mesmo se houver ônus eleitorais.
Enquanto o diretório nacional, sob o comando de Lula, insiste nas candidaturas do partido para marcar posição mesmo em cidades em que as chances de vitória são menores, parte expressiva da legenda defende que ele ceda espaço para outras do campo de esquerda. A pressão parte principalmente dos diretórios municipais e de alguns deputados, que avaliam o impacto da derrota em seus redutos eleitorais.
A derrocada petista após o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff ficou evidente. O partido encolheu em todo o país. Nas eleições municipais de 2016, o PT perdeu 375 prefeituras, se comparado ao pleito de 2012.
Enquanto o PT insiste em seus quadros, PDT, PSB e Rede buscam um alinhamento nacional. No Rio, devem lançar Martha Rocha (PDT), ex-chefe da Polícia Civil no estado, ou Eduardo Bandeira de Mello (Rede), ex-presidente do Flamengo. Em São Paulo, os partidos devem fechar em torno do nome de Márcio França (PSB).
Fonte: O GLOBO
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