Janela partidária deve tornar partido de Bolsonaro o maior da Câmara; entenda as movimentações

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União Brasil é agremiação que mais deve perder quadros após mudanças, que começam nesta quinta e vão até 1º de abril

Bruno Góes e Julia Lindner

03/03/2022 – 04:30

BRASÍLIA — As legendas do país iniciam uma temporada de perdas e conquistas de filiados a partir de hoje, com a abertura da janela partidária, período no qual deputados podem migrar de sigla sem perder seus mandatos — a regra vale até 1º de abril. Como grande parte das negociações está em curso desde o ano passado, líderes e dirigentes já identificaram as principais movimentações e o impacto na correlação de forças do Congresso. Na Câmara, o maior beneficiado deve ser o PL, partido do presidente Jair Bolsonaro, fortalecendo assim ainda mais o Centrão. Com 42 deputados, a bancada tende a receber cerca de três dezenas de nomes. A maior parte virá do União Brasil, agremiação que mais deve perder quadros na dança das cadeiras.

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O PL deve se beneficiar justamente pela chegada de Bolsonaro, que se filiou no final do ano passado e, desde então, começou a trabalhar para atrair para a legenda nomes com forte potencial eleitoral, como os deputados Eduardo Bolsonaro (SP), um de seus filhos, e Bia Kicis (DF), ambos do União Brasil.

Na outra ponta dessa balança, o União Brasil, resultado da fusão entre DEM e PSL, deve encolher dos atuais 78 deputados para menos de 60. Assim, poderá ser rebaixado da liderança à segunda maior força da Casa. Isso porque grande parte da tropa bolsonarista ainda está vinculada ao PSL, partido pelo qual o presidente se elegeu em 2018, e que agora deve ir para o PL.

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O GLOBO procurou os presidentes das principais agremiações e lideranças políticas para fazer uma estimativa de como estará o quadro político nacional após o fechamento da janela. Presidente do União Brasil, Luciano Bivar admite as perdas, mas enxerga na eleição a oportunidade de reverter o quadro.

— Ao fim da janela, devemos ter uns 55 deputados, mas isso não significa nada. Vamos eleger 70 — minimizou.

Crise na base

O movimento de incentivar aliados do presidente a optar pelo PL, feito pelo próprio Palácio do Planalto, causou uma crise com um dos principais partidos da base, o Republicanos. Na semana passada, o presidente da legenda, deputado Marcos Pereira (SP), disse que Bolsonaro “só atrapalhava” as negociações da sigla. Ontem, evitou fazer previsões

— Não sabemos ainda (como será o saldo da janela) — disse.

Outro braço de apoio do governo, o PP também já contabiliza chegadas e partidas. O presidente da sigla, deputado Claudio Cajado (BA), espera que o resultado final seja positivo, mas evita fazer previsões — hoje a bancada conta com 43 nomes. O líder do PP, deputado André Fufuca (MA), aposta na atração de pelo menos sete parlamentares, chegando a 50 deputados.

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Além da janela, a nova configuração do Congresso dependerá da formação de federações partidárias. Nesse tipo de aliança, as legendas se unem por pelo menos quatro anos. MDB e União Brasil ainda dialogam nessa direção, mas a possibilidade de o acordo sair é cada vez menor.

Independentemente da negociação, o MDB contabiliza quatro possíveis saídas. Até oito, porém, poderiam chegar, segundo cálculos do seu presidente, deputado Baleia Rossi (SP).

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— Nossa expectativa é de manutenção da bancada atual ou pequeno crescimento — resume Rossi.

Por enquanto, a federação que tem mais chances de sair é a negociada entre PSDB e Cidadania — com bancadas de 30 e oito, respectivamente. Entre os tucanos, há apreensão sobre o possível encolhimento na Câmara em caso da manutenção do nome do governador de São Paulo, João Doria, na disputa pela Presidência. Hoje, ele patina no patamar dos 3% nas pesquisas de intenção de voto. Paralelamente, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), negocia sua ida para o PSD, por onde poderá concorrer ao Planalto. A costura, porém, depende da desistência do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MG), atual pré-candidato à Presidência da sigla de Gilberto Kassab.

Segundo o líder do PSD, Antonio Britto (BA), a expectativa é que a bancada saia dos 37 deputados para um patamar de 45 a 50 integrantes.

— As bancadas querem a candidatura própria — ressaltou Brito, para justificar o seu otimismo. 

O peso do governismo

Outra negociação de federação segue empacada: entre PSB e PT. Nesse cenário, petistas estimam que a bancada deve ficar do mesmo tamanho, recebendo no máximo um deputado, o que deixaria o partido com 54 parlamentares.

— Não trabalhamos muito com a iniciativa de trazer deputados federais. Trabalhamos mais com a expectativa de consolidar a federação — disse Reginaldo Lopes (MG), líder do PT na Câmara.

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Por sua vez, o PSB vê risco de perder boa parte dos seus integrantes, caso as negociações com o PT naufraguem. Seus dirigentes, contudo, evitam arriscar palpites sobre números.

— Sem federação, corremos risco de perder parlamentares, mas não tenho como nominar nem quantificar — afirmou Bira do Pindaré (MA), líder da legenda na Câmara.

Dentro da bancada, no entanto, há quem aposte na saída de 14 deputados, de um total de 30, se as conversas com os petistas não evoluírem.

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O cientista político Claudio Couto, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), afirma que o fato de Bolsonaro ser o maior beneficiado é resultado de um “governismo” identificado no Congresso.

— Estão mudando os deputados que já vinham votando com o governo e que vão querer disputar a próxima eleição com a máquina do governo a lhes beneficiar. Ainda mais tendo um presidente que vai puxar votos para a legenda — afirma Couto.

Fonte: O GLOBO

 

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