Em entrevista exclusiva ao jornal Correio, de Salvador, o deputado ACM Neto, líder do Democratas na Câmara Federal, fala sobre o novo cenário da oposição no país. Ele responde a perguntas sobre o futuro do Democratas e a importância do uso das redes sociais. Neto conta ainda que o partido vai procurar ganhar as ruas e atuar em sintonia com a sociedade. Leia a íntegra da entrevista abaixo.
Correio – O senhor concorda com as análises que apontam para uma crise de identidade na oposição?
ACM Neto – É preciso entender que o modelo de oposição desenhado pelo PT faz parte de um momento da história do país. É impossível você reproduzi-lo no presente. Era uma oposição completamente irresponsável, destrutiva, que foi inicialmente contra a Constituição de 1988, contra o Plano Real, contra a Lei de Responsabilidade Fiscal. Hoje, não é assim. Diria que temos uma oposição mais qualificada, voltada para o debate político, que é capaz de confluir nas teses que, a nosso ver, são convergentes, mas que também tem grande capacidade de opor resistência na hora necessária. O problema é conseguir sair dos corredores do Congresso e ir para as ruas. Ela só vai conseguir capilarizar o seu discurso e nacionalizar suas idéias quando perder o medo de ir para as ruas. Esse é o grande desafio nos próximos anos.
Correio – E o que impede a oposição de sair das paredes do Congresso?
ACM Neto – Primeiro, é preciso algumas pessoas perderem o medo de ir às ruas, às universidades, às portas de fábricas, de panfletar em praça pública. Gente que fica sempre acomodada com o estilo antigo de fazer política, dependente de vereador, de prefeito, de líderes. A oposição não voltará ao poder se ficar focada e presa às velhas e tradicionais lideranças. Até por que elas estão ao lado de quem está no poder, independente do partido que governa.
Correio – Não há necessidade de alinhar essa visão entre os partidos que compõem a oposição? Há quem, como o senador Álvaro Dias (PMDB-PR), defenda que o momento agora é da ação no Congresso, através da cobrança e da fiscalização…
ACM Neto – Isso é um equívoco absoluto. E é por esse tipo de visão que o PSDB perdeu duas eleições para presidente. Foi o caso de Geraldo Alckmin em 2006 e de José Serra em 2010. Ambos saíram da cadeira de governador de São Paulo meses antes da eleição É preciso começar a sair às ruas imediatamente. Não que seja hora de apresentar um nome para a disputa presidencial de 2014. O tempo certo é depois das eleições de 2012.
Correio – E a partir de agora, quais são as diretrizes para encontrar uma via alternativa?
ACM Neto – Ter um discurso nacional e práticas locais. As principais lideranças da oposição têm que correr o país, não podem aguardar a véspera da eleição presidencial. Claro que a ação no Congresso também é importante. Nunca a oposição foi tão pequena e nunca o governo teve tanto trabalho para votar matérias. Esse começo de ano é o menor em produção legislativa dos últimos anos, porque estamos tendo a capacidade de obstruir, de resistir. É um trabalho que está sendo bem feito, mas ele também foi bem feito em 2006 e 2010, e não deu resultado.
Correio – Uma das questões mais discutidas atualmente é a emergência da classe C. A oposição tem prestado atenção nela?
ACM Neto – O Democratas está agora contratando uma pesquisa qualitativa. Nós vamos fazer um grande levantamento em cada região do país para investigar com profundidade a cabeça dessa nova classe média.
Correio – Diz-se que a classe C é muito voltada para as questões materiais, para as conquistas, mas do ponto de vista dos costumes teria um perfil mais conservador…
ACM Neto – As pesquisas quantitativas feitas nos últimos tempos, e temos várias delas, mostram um perfil eminentemente conservador do brasileiro em geral. Não é apenas uma característica da nova classe média. Vai da classe A à classe E. Mas, para conhecer melhor a classe C é preciso destrinchá-la. O Democratas, no esforço de reposicionar a comunicação e a linguagem do partido, de modernizar as práticas, de criar novos instrumentos de conexão com a sociedade, tem como primeiro passo justamente fazer uma investigação completa sobre como pensa essa nova classe média, seus anseios, esperanças e sonhos, o que pretendem para seus filhos, o seu papel na política.
Correio – Isso significa deixar de discursar para as outras classes?
ACM Neto – Jamais vamos excluir qualquer camada da sociedade. O que significa é que precisamos estratificar a linguagem. Existe um tipo de linguagem para essa nova classe média e outro para a antiga, que também difere das camadas mais pobres. Depois dessa investigação inicial, vamos fazer um trabalho parecido em outras classes, para ter um discurso completo, plural.
Correio – Qual o papel das redes sociais para a oposição nesse cenário?
ACM Neto – Com a expansão do twitter, orkut e facebook, as redes sociais passaram a ser ferramentas importantíssimas e estratégicas de comunicação. E para a oposição, eu diria que elas são até mais importantes, porque quem está no governo tem os meios tradicionais de se comunicar: a propaganda oficial, os atos públicos. No caso da oposição, para que ela possa dar constância e transmitir nacionalmente sua mensagem, tem que usar as redes sociais. O Democratas está contratando uma equipe específica para isso.
Correio – Essas novas formas de atuação política estão sendo conversadas entre os partidos? Há resistência?
ACM Neto – Há uma compreensão de que cada partido tem que cumprir o seu papel, fazer o seu dever de casa. Onde puder haver convergência, vamos fazer. Os três principais partidos da oposição – DEM, PSDB e PPS – têm consciência de que não se pode deixar a coisa correr frouxa como aconteceu no passado. Isso inclui o alinhamento dos discursos, das estratégias e da ação política e eleitoral. Isso tem data marcada para acontecer, já existe uma agenda para ser cumprida, que é exatamente a eleição municipal de 2012.
Correio – Essa agenda é comum para todos os partidos?
ACM Neto – Tem que ser, se não a oposição vai estar fadada a perder novamente em 2014. Houve uma coisa que aconteceu e que foi muito prejudicial em 2010: as disputas internas entre os partidos da oposição em 2008. Em quase todo o Brasil, DEM e PSDB rivalizaram na eleição municipal. Não houve um comando da direção partidária para aproximar as estratégias e as ações eleitorais dos dois partidos. A visão agora é completamente diferente, tanto da nova direção do Democratas, quanto da direção do PSDB. A ideia não é obrigar ninguém a nada, é criar um ambiente que torne esse alinhamento natural entre os partidos. Qual a tese? Onde o Democratas for mais forte, o PSDB vai com ele, e vice-versa. E onde o PPS for mais forte, os outros dois partidos vão juntos com ele.
Correio – O senhor acha que a oposição subestimou a capacidade do PT de se manter no poder?
ACM Neto – Acho que sim. E por duas vezes. A primeira foi no fim de 2005, no auge da crise do mensalão, quando vozes da oposição – e não me incluo dentro delas, pois fui voz dissonante e vencida -, majoritárias, acharam que era hora de colocar panos quentes, que Lula estava fadado a perder em 2006. O segundo momento foi quando aparentemente Lula estava sem um candidato natural, pois os principais nomes do partido haviam sido atingidos pelo mensalão, Antonio Palocci e José Dirceu. Acharam que vencidos os oito anos do governo Lula, ele não teria capacidade de fazer seu sucessor. Dilma Rousseff também foi subestimada muitas vezes. Acharam que ela não tinha carisma, que nunca tinha disputado eleição e que ia perder.
Fonte: acmneto.com.br
Leave a Reply