Por: João de Tidinha
Ontem, por volta de 10 horas da noite, recebi um telefonema do meu amigo. Antes que eu terminasse de dizer “alô” ele foi logo falando do outro lado da linha: “João, você viu o que está acontecendo no Centro de Abastecimento? Com as chuvas, aquilo ali virou um mar de lama. Eu não disse? Quero minha feira de volta!”.
Antes que eu respondesse alguma coisa, ele continuou: “A prefeita transferiu a feira e o açougue para o Centro de Abastecimento e deixou o comércio de roupas e outros produtos no centro da cidade. Ou seja, virou uma confusão. Ficou todo mundo insatisfeito”. Disse ele.
Ainda sem me dar oportunidade de falar, ele disse: “Está faltando os três “P’” na administração da prefeita”.
Fiquei surpreso com a afirmação do meu amigo e antes que ele recuperasse o fôlego, tive tempo de perguntar: “Como assim está faltando os três “P”?
Ele respondeu: “O primeiro “P” é o Planejamento que ela deveria ter feito antes de transferir a feira para o Centro de Abastecimento. Se o local ainda não estava pronto – sem pavimentação, cobertura e saneamento – ela não deveria ter transferido os feirantes e os magarefes para aquele local, fazendo o povo passar por tudo isso. Sem condições de trabalho aquilo lá virou um mar de lama ou de poeira quando não chove”.
Sem perder o fôlego o meu amigo continuou: “O segundo “P” são as Prioridades que a prefeita parece não ter estabelecido na sua gestão. As coisas aqui estão sendo feitas na base do improviso. E o terceiro “P” é de Paciência para realizar as coisas. A prefeita parece que está ansiosa neste ano de eleição, prometendo muito e realizando muito pouco. As coisas devem ser feitas sem alvoroço, seguindo um planejamento”.
Antes que eu pudesse concordar com o meu amigo em alguns aspectos, ele se despediu, dizendo: “Olha, tive um dia cheio hoje. Esse negócio de passeata dos feirantes e magarefes pelas ruas reclamando por melhores condições de trabalho no Centro de Abastecimento me deixou triste e cansado. Vou dormir.” E desligou o telefone.
Ao desligar o telefone, fiquei pensando no encontro que tive com esse mesmo amigo ha algum tempo atrás, na porta do ACRE. Lembro-me de ter dito que sempre fui contra a transferência da feira para o Centro de Abastecimento da forma como a mesma foi efetuada, sem qualquer planejamento.
A feira livre de Euclides da Cunha – conhecida como a melhor em toda região – era uma grande expressão social, cultural e também de lazer para muitos euclidenses. A feira era onde as pessoas se encontravam e onde se encontrava de tudo. Entre cores, aromas, sabores e movimentos, quem ganhava era a população, mais que isso, quem ganhava era o Município, que numa espécie de supermercado a céu aberto, via sua economia, suas culturas, potencialidades e tradições se manifestarem freneticamente em um só lugar. Mas com a transferência da feira para o Centro de Abastecimento tudo isso acabou, a nossa tradicional feira já não mais existe. É como se tivéssemos perdido a nossa identidade.
Depois do telefonema do meu amigo perdi o sono. Mas também com tantas informações preocupantes que ele trouxe! Como diz o ditado popular: “Durma com um barulho desses!”.
Fotos-Revistavidabrasil//Euclidesdacunha.com
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