Ministro da Defesa critica agressão a jornalistas por apoiadores de Bolsonaro: ‘inaceitável’

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Azevedo também defendeu a ‘independência’ e ‘harmonia’ entre os poderes

Vinicius Sassine

04/05/2020 – 14:55 / Atualizado em 04/05/2020 – 15:11

BRASÍLIA – O ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, criticou a agressão a jornalistas cometida por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro em frente ao Palácio do Planalto, durante um ato contra a democracia realizado no domingo. Equipes de imprensa foram agredidas verbalmente ou com socos e chutes.

A posição do ministro está numa nota oficial divulgada à imprensa nesta segunda-feira. Azevedo também defendeu a “independência” e “harmonia” entre os poderes. Do alto da rampa do Planalto, durante o protesto contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso Nacional, Bolsonaro fez uma transmissão em suas redes sociais e chegou a dizer que tem as Forças Armadas “ao nosso lado”.

O ministro, na nota, usou parte das palavras ditas pelo presidente no alto da rampa. Segundo Azevedo, “as Forças Armadas estarão sempre ao lado da lei, da ordem, da democracia e da liberdade”. “Este é o nosso compromisso”, disse. Bolsonaro fez a seguinte afirmação no ato contra a democracia de ontem:

– Vocês sabem que o povo está conosco. As Forças Armadas, ao lado da lei, da ordem, da democracia e da liberdade, também estão ao nosso lado. Peço a Deus que não tenhamos problema esta semana, porque chegamos no limite. Não tem mais conversa. Daqui para frente, não só exigiremos. Faremos cumprir a Constituição. Será cumprida a qualquer preço.

A nota do ministro da Defesa diz que “as Forças Armadas cumprem sua missão constitucional”. “Marinha, Exército e Força Aérea são organismos de Estado, que consideram a independência e a harmonia entre os poderes imprescindíveis para a governabilidade do país.”

Segundo Azevedo, liberdade de expressão é “requisito fundamental” numa democracia. “No entanto, qualquer agressão a profissionais de imprensa é inaceitável.” O ministro citou a pandemia do novo coronavírus, que requer uma atuação conjunta, segundo ele. “O Brasil precisa avançar. Enfrentamos uma pandemia de consequências sanitárias e sociais ainda imprevisíveis, que requer esforço e entendimento de todos.”

Esta é a segunda nota do tipo do ministro da Defesa. Após o primeiro ato antidemocrático com a presença de Bolsonaro, na frente do Quartel-General do Exército, Azevedo divulgou uma nota com tom semelhante. Na ocasião, há duas semanas, o general afirmou que as Forças Armadas atuam para “manter a paz e a estabilidade do país, sempre obedientes à Constituição”.

Bolsonaro afirmou ter as Forças Armadas “ao nosso lado” após ouvir de generais do governo e das cúpulas militares um relato de “preocupação” com os “avanços” do STF. Esses militares compartilham o entendimento do presidente da República de que o STF exagera ao intervir em atos do governo. A mesma opinião foi expressada nesta segunda pelo vice-presidente Hamilton Mourão, general da reserva do Exército.

Duas decisões do STF incomodaram oficiais que estão no governo ou que integram as cúpulas das Forças: o impedimento da nomeação do delegado da Polícia Federal (PF) Alexandre Ramagem, amigo dos filhos do presidente, para a diretoria-geral do órgão, e a derrubada temporária da ordem de Bolsonaro para expulsar diplomatas e funcionários de unidades consulares da Venezuela no Brasil. A primeira decisão foi do ministro Alexandre de Moraes. A segunda, do ministro Luís Roberto Barroso.

Na noite anterior ao ato antidemocrático na frente do Planalto, Bolsonaro teve um encontro no Palácio da Alvorada, a residência oficial do presidente, com os três generais que são seus ministros e que despacham dentro do Planalto, além do ministro da Defesa e dos comandantes das três Forças. A reunião passou praticamente batida no sábado.

O encontro com os ministros Braga Netto, da Casa Civil; Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo; Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional (GSI); e Fernando Azevedo, da Defesa, durou pelo menos uma hora e meia. Estiveram presentes ainda os comandantes do Exército, Edson Pujol; da Aeronáutica, Antonio Carlos Bermudez; e da Marinha, Ilques Barbosa Júnior.

As autoridades presentes não dizem oficialmente o que foi tratado no Alvorada. As Forças e a Defesa se limitaram ao conteúdo de uma nota, com divulgação centralizada pelo ministério. Segundo a nota, o encontro existiu para avaliar o emprego das Forças no combate ao novo coronavírus e para “avaliação de aspectos de conjuntura”.

A atuação do STF em relação ao Executivo foi um dos itens avaliados na reunião com o presidente. Pouco antes do encontro, Barroso havia suspendido por dez dias a decisão de Bolsonaro de expulsar o corpo diplomático venezuelano presente no Brasil.

Generais se disseram “preocupados” com os atos do STF, o que foi suficiente para o presidente engrossar o discurso no ato antidemocrático do qual participou neste domingo, em frente ao Palácio do Planalto. Os manifestantes protestavam contra o STF e o Congresso Nacional.

Fonte: O GLOBO

 

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