Nas redes, parlamentares de esquerda ampliam críticas a Israel e se descolam do tom de Lula sobre o conflito

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Após condenação a ataque terrorista do Hamas e elogios ao posicionamento do presidente, deputados passaram a enfatizar ‘genocídio’ em Gaza

Por Marlen Couto 

— Rio de Janeiro

19/10/2023 

Parlamentares de siglas à esquerda no Congresso se distanciaram nos últimos dias, em seus perfis nas redes sociais, da retórica de ênfase na condenação ao Hamas adotada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que busca se colocar como mediador no conflito. Uma análise feita pela empresa de consultoria Bites, a pedido do GLOBO, aponta que, desde o último dia 16, parte da base do presidente na Câmara passou a dar mais peso a discursos que miram Israel , ao defender que há um “genocídio” na Faixa de Gaza, território palestino.

A mudança de tom ocorreu após deputados do campo, inicialmente, reprovarem os ataques do Hamas ou de igualmente responsabilizarem os dois lados no conflito. A Bites analisou 1.085 menções ao tema em postagens de 93 deputados filiados ao PT, PCdoB, PSOL, PDT, Solidariedade, PSB, Rede e PV nas plataformas Facebook, Instagram e X (antigo Twitter).

Em seu primeiro posicionamento sobre o tema, no dia 7 de outubro, Lula classificou os ataques como “terroristas”, sem citar diretamente o Hamas, o que aconteceu em uma postagem quatro dias depois. Na publicação, Lula pede que o Hamas liberte crianças sequestradas e que Israel cesse os bombardeios. Naquele dia, a mensagem do presidente foi a única postagem da esquerda entre as 50 em português com maior engajamento sobre o assunto.

A manifestação de Lula ocorreu após a gestão petista ser cobrada pela oposição a condenar a atuação do Hamas. Pressão semelhante ocorreu em relação ao deputado e pré-candidato à prefeitura de São Paulo Guilherme Boulos (PSOL), que revisou o discurso e condenou de forma mais incisiva o grupo em discurso no plenário da Câmara. A fala ocorreu dias após o infectologista Jean Gorinchteyn, que foi secretário estadual de Saúde na gestão João Doria, deixar sua pré-campanha.

Na avaliação de André Eler, diretor da Bites, a posição de Lula ajudou a manter o tom do campo em relação ao Hamas, mas não conseguiu moldar totalmente o discurso da esquerda sobre o conflito. Quando o petista citou diretamente o grupo terrorista, as postagens dos parlamentares da base buscaram exaltar a manifestação do presidente e destacar a operação de resgate e repatriação de brasileiros em áreas do conflito.

Com o avanço de Israel sobre Gaza, mais deputados da esquerda passaram a mirar mais especificamente para Israel, ao dizer que o país comete um genocídio contra palestinos. O tema também apareceu na resolução divulgada pelo PT esta semana. No texto, a legenda diz condenar os “assassinatos e sequestro de civis, cometidos tanto pelo Hamas quanto pelo Estado de Israel, que realiza, neste exato momento, um genocídio contra a população de Gaza, por meio de um conjunto de crimes de guerra”.

O levantamento da Bites mostra que as menções em português a genocídio ou apartheid do povo palestino têm sido minoritárias no debate sobre o conflito nas plataformas em relação à defesa de Israel. Embora tenha crescido com o ataque a um hospital em Gaza — cuja autoria abriu uma guerra de versões — o tema gerou 643 mil referências nas redes analisadas até terça-feira, enquanto o Hamas foi mencionado 4,7 milhões de vezes no mesmo período. Em mais da metade das postagens (51%), foi associado a terrorismo.

Já o termo “Israel” teve 4,46 milhões citações, com mensagens de maior repercussão alinhadas ao discurso do primeiro-ministro do país, Benjamin Netanyahu — resultado impulsionada por lideranças do bolsonarismo e pela comunidade evangélica. Nas associações com Israel, são mais frequentes menções a grupo terrorista, decapitação de pessoas e assassinato bárbaro, temas que grupos pró-Israel associam ao Hamas.

— Lula não controla a narrativa nas redes sociais em nenhum momento, apesar de ter uma folga quando consegue se posicionar contra o Hamas de forma mais clara. O tempo inteiro quem dominou a narrativa foi a direita, que se posicionou e continua se posicionando ao lado de Israel — analisa André Eler, da Bites.

FONTE:O GLOBO

 

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