Por: Celso Rocha de Barros
No ano de 2015, Joaquim Levy foi aquele sujeito sorteado entre os amigos para não beber na farra, porque alguém precisa dirigir o carro na volta. Mas o Brasil esse ano mergulhou com gosto na cachaça, e, onde tem muito bêbado, sempre sai briga. Foi quando o motorista viu que era melhor sair e pegar um ônibus.
Nelson Barbosa é o novo sorteado. O PT passou o ano de 2015 torcendo para que fosse. Não acho que todos os petistas soubessem pelo que estavam torcendo.
A nomeação de Barbosa amarra de vez o PT ao governo Dilma. Acabou a história de “Viva Dilma, Fora Levy”. Visto que Barbosa vai ter que fazer o ajuste do mesmo jeito que Levy, o ajuste agora é petista.
Há quem duvide do compromisso de Barbosa com o equilíbrio fiscal. O novo ministro fez parte da equipe econômica do primeiro mandato de Dilma, em que gastou-se mais do que se tinha, para comprar um crescimento que nunca foi entregue. Deve-se dizer, entretanto, que o novo ministro rompeu com o primeiro governo Dilma em 2013, justamente por discordar das manobras fiscais.
Cabe a pergunta: afinal, que Nelson Barbosa será ministro? O que o PT deseja, ou o que rompeu com Dilma em 2013?
Em seu primeiro discurso, Nelson Barbosa disse todas as coisas certas. Comprometeu-se com o ajuste fiscal, defendeu uma meta de gastos, e, o que é muito mais importante, propôs uma reforma da Previdência. Se Barbosa implementar essa agenda, será um grande ministro.
Barbosa, na verdade, não tem muita margem de escolha. Acabou a alta das commodities, e a formalização da mão de obra provavelmente já gerou toda a arrecadação que poderia gerar. Acabou o dinheiro. O debate daqui para a frente é o que fazer nesse novo quadro. Não se trata de debater ortodoxos vs. heterodoxos: heterodoxos como Luis Carlos Bresser Pereira e José Luis Oreiro apoiam o ajuste. O câmbio, antigo ponto controverso, acabou indo mais ou menos para onde os heterodoxos queriam.
Se Barbosa for irresponsável, a previsão é simples: a crise se aprofundará, Dilma cairá, e os outros partidos de esquerda disputarão o espólio do petismo. Mas suponhamos que Barbosa faça o ajuste.
E se o PT não quiser apoiá-lo?
Neste caso caberia perguntar, qual é o plano do Partido dos Trabalhadores? Romper com mais um ministro, reclamar da enésima traição? Se entrincheirar com o grupo cada vez menor de “verdadeiros fiéis”?
Não vai funcionar. Barbosa é universalmente visto como um homem do partido, indicado pelo PT. Barbosa não é do mercado financeiro, não é economista da PUC-RJ, não é um corpo estranho à esquerda. Seu ajuste terá uma estrela vermelha carimbada, para o bem e para o mal. O melhor para o PT, portanto, é lutar para que o ajuste funcione, pois ele agora é seu.
Por fim, se Barbosa fizer o que tem que ser feito e obtiver bons resultados, podemos esperar um disputadíssimo campeonato de papo furado envolvendo governistas e oposicionistas. Os governistas enfatizarão as mais ínfimas diferenças entre Levy e Barbosa para falar da “virada progressista de 2016”. E a oposição, por sua vez, dirá que tudo que fez de irresponsável em 2015 (e parece disposta a fazer em 2016) foi apenas para forçar a virada do PT. Tudo profundamente estúpido, mas, provavelmente, inofensivo, e talvez precisemos de algum alívio cômico.
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