Covas, Paes e nova esquerda crescem; Bolsonaro e Lula mostram força reduzida
Bernardo Mello
30/11/2020 – 04:30 / Atualizado em 30/11/2020 – 13:10
Numa corrida eleitoral pontuada pela pandemia da Covid-19 e pela pulverização partidária em todo o país, os resultados do segundo turno confirmaram um saldo vitorioso para políticos tradicionais, legendas do centrão e candidatos reconhecidos por feitos na gestão municipal. Outras tendências já sinalizadas no primeiro turno, há duas semanas, e reforçadas ontem ao fim da totalização dos votos nas maiores cidades do país foram o despontar de novos nomes na esquerda e o fortalecimento de candidaturas marcadas pela diversidade de raça e de gênero, mesmo nos casos que não se traduziram em vitórias nas urnas.
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Principais nomes da polarização nacional entre direita e esquerda, o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Lula mostraram força reduzida neste ciclo eleitoral. O fracasso de candidaturas bolsonaristas nas 25 capitais teve um ligeiro contrapeso na vitória de Capitão Nelson (Avante) em São Gonçalo, segundo maior colégio eleitoral do estado do Rio, numa candidatura só apoiada pelo presidente no segundo turno. Apesar de a presença de Lula ter coincidido com um avanço de Marília Arraes (PT) no primeiro turno de Recife, a vitória confirmada de João Campos (PSB) no segundo turno sinalizou o limite do capital eleitoral do ex-presidente, que ainda viu o partido ficar sem governar capitais pela primeira vez desde 1985.
A apuração de ontem nas 57 cidades que tiveram segundo turno terminou com resultados positivos para PSDB e DEM, vencedores nos dois maiores colégios eleitorais do país, São Paulo e Rio.
Ciclos eleitorais
Diferentemente dos ciclos eleitorais de 2016 e 2018, que tiveram êxitos de outsiders e de partidos nanicos, lideranças políticas e partidos tradicionais foram os maiores vencedores este ano. Exemplo deste fenômeno é o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, novato quando se elegeu há quatro anos pelo pequeno PHS. Na atual eleição, Kalil se aproximou da política tradicional, formando aliança com oito legendas, e foi reeleito em primeiro turno pelo PSD, com 63% dos votos válidos. A vitória, mais expressiva do que a eleição de quatro anos atrás, credencia o ex-presidente do Atlético-MG a disputar o governo de Minas em 2022.
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Depois de se eleger como novidade política em 2016 e consolidar seu nome no PSDB ao vencer o governo de São Paulo em 2018, João Doria viu o antigo vice, Bruno Covas, manter a capital paulista sob domínio tucano. Com o fortalecimento do PSDB no estado, Doria sai desta eleição, mesmo sem concorrer e pouco tendo aparecido na campanha de Covas, com maior musculatura no partido para se lançar à disputa presidencial em 2022. Covas, por sua vez, se consolida como o principal nome da nova geração do PSDB.
Doria terá como aliado o novo prefeito do Rio, Eduardo Paes (DEM), que elogiou a vitória de Covas em seu primeiro pronunciamento após ser eleito. Paes, ex-prefeito que teve dois mandatos à frente da capital fluminense, não havia conseguido reeleger seu sucessor há quatro anos. Agora, retoma o cargo de Marcelo Crivella (Republicanos) numa campanha atravessada pela comparação entre as duas gestões, que terminou favorável ao candidato do DEM.
Crivella apostou na associação a Bolsonaro e em falsas acusações no campo da moral e dos costumes direcionadas ao adversário, numa tentativa de amenizar o impacto negativo de suas taxas de rejeição, que beiraram os 60% ao longo de toda a campanha. O prefeito, no entanto, foi superado por mais de 715 mil votos válidos por Paes, numa desvantagem de 29 pontos percentuais — entre as capitais, somente Boa Vista (RR) teve uma diferença maior entre candidatos neste segundo turno.
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Partido que mais cresceu em âmbito nacional há dois anos, em meio à onda Bolsonaro, o PSL amargou um desempenho tímido nestas eleições municipais, com apenas 90 prefeituras conquistadas mesmo tendo à disposição mais de R$ 200 milhões do fundo eleitoral. Nenhuma das vitórias ocorreu em cidades com mais de 200 mil habitantes. O Novo, outra legenda que havia avançado em 2018, também termina as eleições com saldo decepcionante: elegeu apenas uma prefeita, em Joinville (SC).
Apesar das derrotas de Guilherme Boulos (PSOL) em São Paulo e de Manuela D’Ávila (PCdoB) em Porto Alegre, a esquerda saiu com desempenhos expressivos nessas cidades, assim como em Recife, onde o segundo turno foi disputado entre dois candidatos deste campo político. Todos têm menos de 40 anos, indicando uma renovação de quadros que tende a se consolidar nas eleições de 2022.
SOBE
BRUNO COVAS
Após abrir mão da candidatura à prefeitura de São Paulo em 2016 para ser vice de João Doria, Bruno Covas assumiu o mandato em 2018, depois de o titular se eleger governador, e se reelegeu numa campanha que se esquivou de padrinhos políticos tucanos. A vitória, se fortalece uma possível chapa encabeçada por Doria à presidência em 2022, também projeta Covas como maior expoente da nova geração do PSDB.
Quatro anos depois de não fazer seu sucessor na prefeitura do Rio, e dois anos após uma derrota surpreendente ao governo do estado, Eduardo Paes mostrou sua força na capital fluminense com uma das vitórias mais confortáveis em capitais este ano. A volta ao cargo acalenta o projeto de Paes de se lançar novamente ao Palácio Guanabara no futuro.
ALEXANDRE KALIL
Reeleito em primeiro turno com mais de 60% dos votos válidos, o prefeito de Belo Horizonte construiu ampla aliança de partidos e se cacifou para concorrer ao governo de Minas em 2022. Mais conhecido há quatro anos por ter sido presidente do Atlético-MG, Alexandre Kalil se consolidou em seu primeiro mandato e nesta campanha como nome bem recebido por diferentes campos ideológicos.
PARTIDOS DO CENTRÃO
Nas capitais e grandes cidades, partidos como PSD, MDB e PP estiveram entre os mais vitoriosos, com sinalizações de força de suas lideranças. O PSD, de Gilberto Kassab, cresceu em estados como Bahia e Minas, e o PP, de Ciro Nogueira, teve vitórias no Nordeste, em estados como Piauí e Alagoas. O MDB se manteve como o partido com maior número de prefeituras do país, governando agora 784 cidades.
DEM
Um dos partidos que mais cresceu em número de prefeituras conquistadas, passando de 268 para 464 cidades governadas, o DEM ampliou sua presença em grandes cidades com vitórias em dois dos quatro maiores colégios eleitorais do país: Rio e Salvador. Na capital baiana, o prefeito e presidente nacional da legenda, ACM Neto, elegeu seu sucessor Bruno Reis em primeiro turno e ganhou musculatura para disputar o governo do estado em 2022.
Apesar das derrotas no segundo turno em São Paulo e Porto Alegre, Guilherme Boulos (PSOL) e Manuela D’Ávila (PCdoB) tiveram desempenhos expressivos nas respectivas capitais, numa demonstração de força da chamada “esquerda sub-40”. O fenômeno se repetiu em Recife, com a vitória de João Campos (PSB) contra Marília Arraes (PT).
DIVERSIDADE NA POLÍTICA
A participação feminina nas câmaras de vereadores cresceu em 18 das 25 capitais que realizaram eleições — o pleito em Macapá foi adiado para dezembro. O aumento de representatividade também inclui mulheres negras e trans. Em Porto Alegre, capital que terá o maior percentual de mulheres vereadoras (30%), Karen Santos (PSOL), única representante negra da atual legislatura, foi reeleita com a maior votação na cidade. Em Belo Horizonte, a mulher trans Duda Salabert (PDT) tornou-se a vereadora mais votada da história da capital mineira. Palmas (TO) será a única capital com uma prefeita: Cinthia Ribeiro (PSDB).
Nenhum dos candidatos a prefeito apoiados pelo presidente se elegeu nas capitais, e a maioria dos bolsonaristas que concorreram a vagas em câmaras municipais também saiu derrotada. Os reveses no segundo turno ocorreram em Belém, com Delegado Eguchi (Patriota); Fortaleza, com Capitão Wagner (PROS); e no Rio, com Marcelo Crivella (Republicanos). Diante do resultado frustrante, Jair Bolsonaro acelerou a busca por um partido, e avalia até mesmo o desembarque numa sigla centrão.
LULA
O ex-presidente não conseguiu impulsionar candidaturas do partido em Rio e São Paulo, os maiores colégios eleitorais do país, e também fracassou em capitais do Nordeste, região em que mantém suas maiores taxas de aprovação. Na disputa de Recife, em que o uso da imagem de Lula coincidiu com o crescimento de Marília Arraes no primeiro turno, a candidata foi superada na reta final.
PSL
Embora tenha recebido quase R$ 200 milhões do fundo eleitoral, o partido elegeu menos do que cem prefeitos e não avançou ao segundo turno em nenhuma capital. Candidaturas apoiadas pela cúpula nacional da legenda, como as de Carlos Andrade em Recife e de Joice Hasselmann em São Paulo, não decolaram.
MARCELO CRIVELLA
Superado por mais de 715 mil votos para Eduardo Paes, o prefeito do Rio termina sua gestão com rejeição elevada e mais distante do presidente Jair Bolsonaro, que recusou convite para participar de sua campanha no segundo turno. Por conta de panfletos com falsas acusações contra adversários na reta final de campanha, com acusações infundadas de que tentariam implementar “pedofilia nas escolas”, Marcelo Crivella foi denunciado à Justiça Eleitoral.
OUTSIDERS
Depois de vitórias de novatos na política em 2016, como Alexandre Kalil e João Doria, e de mais triunfos de outsiders em 2018, com Wilson Witzel no Rio e Carlos Moisés em Santa Catarina, este ano trouxe derrotas de candidatos que tentaram escapar à política tradicional. Entre os exemplos estão o radialista Nilvan Ferreira (MDB) em João Pessoa, superado pelo ex-prefeito Cícero Lucena (PP); o revés do ex-promotor de Justiça Alfredo Gaspar de Mendonça (MDB) em Maceió para o deputado João Henrique Caldas (PSB); e o fracasso do deputado federal Luiz Lima (PSL), ex-nadador que bateu na tecla da “nova política” e caiu no primeiro turno do Rio.
PARTIDO NOVO
Depois de eleger oito deputados federais em 2018, gerando expectativa de avanço municipal neste ano, o Novo venceu apenas uma prefeitura: Joinville (SC). Com brigas internas, o partido retirou a chapa de Filipe Sabará em São Paulo.
Superado por mais de 715 mil votos para Eduardo Paes, o prefeito do Rio termina sua gestão com rejeição elevada e mais distante do presidente Jair Bolsonaro, que recusou convite para participar de sua campanha no segundo turno. Por conta de panfletos com falsas acusações contra adversários na reta final de campanha, com acusações infundadas de que tentariam implementar “pedofilia nas escolas”, Marcelo Crivella foi denunciado à Justiça Eleitoral.
OUTSIDERS
Depois de vitórias de novatos na política em 2016, como Alexandre Kalil e João Doria, e de mais triunfos de outsiders em 2018, com Wilson Witzel no Rio e Carlos Moisés em Santa Catarina, este ano trouxe derrotas de candidatos que tentaram escapar à política tradicional. Entre os exemplos estão o radialista Nilvan Ferreira (MDB) em João Pessoa, superado pelo ex-prefeito Cícero Lucena (PP); o revés do ex-promotor de Justiça Alfredo Gaspar de Mendonça (MDB) em Maceió para o deputado João Henrique Caldas (PSB); e o fracasso do deputado federal Luiz Lima (PSL), ex-nadador que bateu na tecla da “nova política” e caiu no primeiro turno do Rio.
PARTIDO NOVO
Depois de eleger oito deputados federais em 2018, gerando expectativa de avanço municipal neste ano, o Novo venceu apenas uma prefeitura: Joinville (SC). Com brigas internas, o partido retirou a chapa de Filipe Sabará em São Paulo.
Fonte: O GLOBO
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