Olga querida

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Por: Benjamim Batista (*)

Olga querida,

Esta não será a última carta que lhe faço. Na verdade não sei onde encontrei forças hoje cedo na hora sagrada das minhas orações, quando faço a minha meditação em torno do nome de Deus, tentando entender os mistérios da vida e escrevi este bilhete com tinta preta, como se fosse de luto, mas vendo sua foto que ganhei ontem à noite aqui no Jardim da Saudade, entendi, querida irmã – que era aquele sorriso da foto que nós deveríamos guardar. Sobretudo aquele sorriso da primeira foto em preto e branco que mostra seu sorriso de menina moça, comerciante da nossa Euclides da Cunha, onde Manelão demonstrando bom gesto e inteligência incomum, definitivamente, apaixonou-se por você.

Eu estava lá, Carrazinha querida, no seu armarinho quando tudo aconteceu.

Como foi sabido o seu Manelão amado, no esforço e determinação para conquistar o coração da morena clara das mais lindas e alegres de sua geração! Daquele namoro, daquele casamento, nasceram seus 7 filhos lindos, amados (na verdade, adorados pelo seu marido saudoso) e eu, seu irmão caçula que você sempre chamou com o apelido de Euzinho, que fui tantas vezes testemunha em Cipó nas nossas férias e em Feira de Santana de nossa convivência plena, da chegada do cunhado Manoel, beijando os filhos como se beijasse troféus, levantando-os para o alto numa demonstração tão bonita de um pai que realmente quer bem aos filhos!

Portanto Olga, esta não será a última carta que lhe escrevo. Através da misericórdia divina e por meio das preces que aprendi a rezar, hei de descobrir o seu e-mail no site do céu e no meu coração, creia irmãzinha querida, nosso papo vai continuar.

Obrigado por sua amizade, pelo seu sorriso constante e por aquelas piadas que só você sabia contar.
Obrigado por ter me ensinado a nadar “na raça” no Tanque dos Limas na nossa Euclides da Cunha e por me defender quando os meninos da nossa infância, mais fortes do que eu, queriam me bater e você tomava a frente, como se fosse uma leoa e todos saíam correndo.

Agora que você é luz, espírito em evolução, afastado do corpo, feito à imagem e semelhança do Pai Eterno Criador do Céu e da Terra, receba a oração e o amor de todos nós que estamos aqui.

Seu corpo desce à sepultura, querida irmã, mas sua alma sobe em direção ao Pai, com o apoio de Jesus, como disse ontem, nossa irmãzinha Dudu, que você carinhosamente chamava também de Mãe Dudu.
No final desta minha carta, Carrazinha querida, deixe eu lhe fazer um pedido especial:

Depois de reencontrar àquele que mais lhe amou na Terra, seu Manelão querido, dê, por favor, um beijo de luz e paz ao nosso irmão mais velho – que chegou aí no verdadeiro NOSSO LAR, primeiro do que você, o Waltinho amado. Éramos 10, agora somo 8. O dever dos que ficamos é a oração constante. Orar e viajar, eis o caminho ensinado por Cristo. E quando encontrar nossos pais Benjamin e Maria Brasília dê notícias nossas e diga que os amamos eternamente, porque foi, na essência, o que eles nos ensinaram… A união, antes de tudo.

E, quando você abrir as cortinas do céu, leve o nosso abraço amoroso ao Júnior de Nair. Sabemos que como bom médico, Papai do Céu o requisitou igualzinho ao espírito de André Luiz e que ele tem ajudado a reencaminhar as almas que chegam recentemente ao Hospital Celestial. Que seu mundo astral, Olga amada, seja de plena luz. Dê, querida irmã, nossas lembranças a Deus. Diga que O amamos muito, incondicionalmente, e, que nós nunca vamos esquecer o 1º mandamento aprendido no catecismo feliz da nossa infância na Rua da Igreja dos nossos sonhos, onde crescemos e que é o mesmo que Moisés recebeu nas montanhas:

“Amar a Deus sobre todas as coisas, com toda nossa alma, com todo o nosso coração e ao nosso próximo como se fosse a nós mesmos”.

Obrigado pelo aniversário tão lindo que você nos deu em 13 de março. Aquela é a lembrança, aquele é o filme verdadeiro que vamos guardar de você, viu Carrazinha querida? Você dançando, recebendo suas amigas e amigos. Ali sim, era uma despedida, mas nós não sabíamos.

Fizemos uma grande festa, sim. Nas graças de Deus, celebramos sua vida. Por tudo, querida, Deus seja louvado. Foram, na Terra, 70 anos bem vividos.

Você sempre se emocionava quando eu cantava a Ave Maria de Schubert. Vou tentar cantar de novo agora. Perdoe se eu não conseguir.

Adeus, irmãzinha alegre, pintona, especial, querida.
Adeus, adeus…
(Ave Maria)

Jardim da Saudade
19/10/2010
Salvador – Bahia

(*)Benjamin Batista, é irmão caçula de Olga. Escritor e poeta, pertence a Academia de Cultura da Bahia.
Fones: 71 8178-7581

 

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