Por: Mia Couto
Ele é um dos escritores moçambicanos mais conhecidos em Portugal. Apesar da sua ainda breve idade (52 anos) tem já um grande espólio de obras publicadas (contos e romances) em português e em diversas outras línguas. Tem publicado também inúmeras crônicas na imprensa de Maputo. Arrecadou já diversos prêmios de literatura pela excelência da sua prosa. Biólogo de profissão tem-se dedicado às letras e ao jornalismo de uma forma muito intensa. É um grande patriota moçambicano.
Certo dia foi convidado a fazer uma “oração de sapiência” (Março de 2005), no Instituto Superior de Ciências e Tecnologia de Moçambique. Conhecendo muito bem a realidade sociológica e econômica de Moçambique, um dos países mais pobres do mundo, e desejando refletir publicamente sobre as inércias que tolhem o desenvolvimento daquela nação, escreveu e leu uma “lição” sobre um dos seus temas de eleição, o combate à pobreza e aos preconceitos enraizados. Ele começou por referir que “Não podemos entrar na modernidade com o atual fardo de preconceitos. À porta da modernidade precisamos de nos descalçar.” E contou ”sete sapatos sujos” que “necessitamos deixar na soleira da porta dos tempos novos”. Um conjunto de idéias, atitudes e superstições que, longe de serem apanágio da sociedade moçambicana, são um travão para o desenvolvimento e justiça social de muitos outros povos, incluindo Portugal.
Deixo aqui os seus SETE SAPATOS SUJOS.
Primeiro sapato: A idéia que os culpados são sempre os outros e nós somos sempre vítimas;
Segundo sapato: A idéia de que o sucesso não nasce do trabalho;
Terceiro sapato: O preconceito de quem critica, é um inimigo;
Quarto sapato: A idéia que mudar as palavras muda a realidade;
Quinto sapato: A vergonha de ser pobre e o culto das aparências;
Sexto sapato: A passividade perante a injustiça;
Sétimo sapato: A idéia de que para sermos modernos temos que imitar os outros.
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