Por Vinicius Torres Freitas (*)
Sem contar a semana de “festas”, falta menos de um mês para o fim do ano. A partir do dia 24, nada mais funciona. Governo, Congresso e Justiça param ainda antes.
Dados os exemplos vívidos, repulsivos e escandalosos de desastre nacional, tratar de contas públicas parece uma abstração tediosa. Mas convém notar que 2015 vai terminar sem que tenhamos tido um Orçamento e que 2016 vai pelo mesmo caminho. Isso vai dar problema muito concreto.
Não há governo. Algumas burocracias, em especial aquelas para as quais Dilma Rousseff não dá quase a mínima, meio que andam sozinhas, para o bem ou o mal, casos de saúde e educação, por exemplo.
No mais, a presidente se ocupa de:
1) Preservar seu mandato sobre o nada, não se sabe bem para o quê, talvez para escolher a cor do PowerPoint dos ministros, como já disse um jornalista inglês fazendo troça da mania de minúcias da presidente;
2) Como o pessoal de seu partido, coalizão restante ou governo vai fugir da polícia;
3) De megalomanias ora ainda mais delirantes, por falta de recursos, vistas com raiva ou escárnio por dois terços da população.
Enfim, Dilma Rousseff jamais compreendeu o que é ser presidente, ter prioridades maiores, liderança nacional para formar acordos de mudanças, visão de longo prazo. Se quando havia algum dinheiro e poder era assim, pior ainda agora, que é uma alma penada no Planalto, a obstruir soluções.
Ontem se soube que o deficit do governo federal no ano já vai a 0,7% do PIB, sem contar “pedaladas” que talvez ainda deva pagar. Previa-se superavit de 1% do PIB. Ninguém mais liga, como se o país fosse um navio fantasma à deriva, do qual se espera apenas saber quando vai se arrebentar nos rochedos.
Gasta-se ou corta-se à matroca, ao vai da valsa. O rombo cresce, de qualquer maneira; não se sabe em que medida crescerá no ano que vem. O Congresso, em grande parte atolado na imundície e avesso a Dilma, não vota nada.
Nessa toada, é quase inevitável degradação adicional do crédito do país e de suas empresas no início do ano que vem. Vamos escapar apenas se os donos do dinheiro grosso acharem que está tudo tão calmo no mundo que até no Brasil vale a pena colocar algum.
A senadora que preside a Comissão Mista do Orçamento, Rose de Freitas (PMDB-ES), escarnece do governo. Diz que a turma de Dilma manda mudanças frequentes para o Orçamento de 2016, que não se entendem nem mesmo na equipe econômica, tanto que começa a duvidar de que queiram votar a lei ainda neste ano. Virou pilhéria.
Fazenda e Orçamento não se entendem sobre o tamanho do deficit do ano que vem, embora, repita-se, ninguém acredita nesses números, mesmo porque nem sabemos o tamanho da recessão de 2016.
Sabe-se que o deficit neste ano não é ainda maior porque se cortou quase 40% do investimento federal “em obras”, o que faz o país atolar ainda mais e é insustentável. Que a Previdência sangra e deve sangrar mais, com mais desemprego e mais informalidade. Que a coisa está tão feia que o Tesouro (Fazenda) propôs ontem discretamente que se comece a cortar o gasto com Previdência Rural (de pessoas que praticamente não contribuíram, que recebem o mínimo e gera quase todo o deficit do INSS, de R$ 76 bilhões até aqui).
(*)Está na Folha desde 1991.
Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de terça a
sexta e aos domingos.
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