Claudio Leal
De Porto Alegre
O senador Pedro Simon ainda se refere ao seu partido, o PMDB, com a mesma sigla dos anos de resistência à ditadura: MDB (Movimento Democrático Brasileiro). Ao 80 anos, essa opção vernacular também realça sua dissidência com o núcleo de peemedebistas que aderiu ao governo Lula, depois de protagonizar a era Fernando Henrique Cardoso no Congresso. Apesar das sereias da candidata Dilma Rousseff (PT), que o cortejou em discursos e telefonemas, Simon decidiu, na última semana, distanciar-se mais uma vez da cúpula e apoiar Marina Silva (PV) para a presidência da República.
Nesta entrevista especial a Terra Magazine, concedida em seu apartamento, em Porto Alegre (RS), o senador esclarece o voto em Marina e renova a militância do segundo turno. O escândalo do tráfico de influência na Casa Civil, envolvendo a ex-ministra Erenice Guerra, substituta de Dilma, motivou-o a abandonar a reservada simpatia com a candidata petista, a qual sempre destaca a importância do líder gaúcho na sua formação política.
– O que me levou, me deixou muito angustiado, foi o que aconteceu na Casa Civil… Eu imaginava que no tempo do primeiro chefe da Casa Civil, José Dirceu, era uma coisa e essas coisas tinham desaparecido. Mas não tinham desaparecido. Tinham que ser mais esclarecidas. E a Dilma é uma figura fora do comum na história do Brasil.
Sem deixar de destacar a biografia de Dilma, Simon explicita as suas razões para votar em Marina:
– Vejo a Marina, primeiro, como uma pessoa muito espiritualizada, com sentimentos muito profundos, de fé. Se ganhar, ela alega que não fez compromisso com nenhum partido, vai governar com o Brasil. Vai escolher lá no PT, no PSDB… Ela até cita alguns nomes do governo Lula, que são de primeira grandeza.
Em 24 de setembro, o dia em que a modelo Gisele Bündchen declarou apoio a Marina, o senador manifestou sua decisão à candidata do PV, em Porto Alegre. Cercado por jornalistas, na sala de sua casa, reiterou o desejo de que as eleições, a presidencial e a do Rio Grande do Sul, sejam decididas no segundo turno.
– A campanha no Brasil, com esses partidos de um minuto, dez partidos, é uma confusão… É impossível o eleitor ter uma análise fixa da questão. Eu acho que o segundo turno é o que nós temos de mais positivo na eleição do Brasil – analisa.
Simon critica “a soberba” de Lula, onipresente na sucessão. O senador se surpreendeu com a pesquisa que apontou o presidente como mais confiável do que Deus.
– Ele vai querer discutir com o Homem lá de cima. Os caras ficaram com medo de combater o Lula. O problema do Lula, hoje, com toda a sinceridade, o grande problema, é o pecado capital: a soberba.
Apesar de reconhecer as conquistas econômicas do petista, ele critica o presidente por não ter sido firme na punição do ex-subchefe da Casa Civil, Waldomiro Diniz, homem da confiança do ex-ministro José Dirceu, acusado de extorsão em 2004. Para Simon, aquele foi um momento que definiria o perfil ético do governo.
Desde 1990 no Senado, o peemedebista confessa estar “muito abatido” com o declínio da vida parlamentar e do nível do Congresso. Vincula o desânimo à passagem do tempo e à mediocridade das relações do Executivo com o Legislativo.
– Vim de uma época em que o meu grupo, que almoçava e jantava, era o Dr. Ulysses, o Dr. Tancredo, Covas, Montoro, Teotônio, Richa… Era esse grupo. Hoje eu almoço em casa e janto em casa. É muito raro. Eu vou conversar com quem?
Fonte: Terra Magazine
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