Samuel Celestino
Jornalista
scelestino@grupoatarde.com.br
Nada ou quase nada acontece de construtivo nesta fase da campanha eleitoral que se situa entre regularizações de candidaturas e o horário eleitoral em rádio e tevê. Apenas viagens pontuadas dos candidatos aos estados – nos casos dos candidatos a presidente – e aos municípios, pelos integrantes às chapas majoritárias, candidatos a governadores e ao Senado Federal.
De resto, há muito disse-não-disse, ti-ti-ti, pirraças e chiquitinhas. Traduzindo: nada que some, ou que construa e esclareça a consciência do eleitor sobre a escolha que fará.
Aqui na Bahia, a guerra se situa mais entre os candidatos ao Senado e menos ao governo.
Neste último caso, mais entre Wagner e Geddel Vieira Lima. Souto reclama das pesquisas, silencia sobre a ausência de apoio concreto dos democratas em suas viagens às bases interioranas.
No Democratas parece acontecer uma situação menos coletiva e mais egoísta: os candidatos ao Legislativo cuidam cada qual das suas eleições. Esquecem da chapa majoritária.
Se pensarem em conjunto, talvez possam colher resultados melhores em outubro. Se o Democratas fracassar, adeus viola. Depois de mandar na Bahia desde a quartelada de 1964, primeiro conduzindo a Arena, sustentáculo político e mentiroso da ditadura, depois com o nome do PDS, trocado pelo PFL e mais recente pelo DEM. A mudança de nomes seguiu um processo de desgaste que vem de há muito. Na Arena-PDS-PFL-DEM o mesmo agrupamento (muitos saltaram da canoa) com nomes diferentes, acabou em diversas unidades federativas. De início,o partido era votado nos grotões desprovidos de consciência política o que, pouco a pouco, foi desaparecendo.
A Bahia passou a ser o último reduto do agrupamento com a oligarquia que se findou com a morte do senador ACM, embora já cambaleasse antes, como ficou claro com a vitória de Wagner em 2006.
Sarney, no Maranhão, espalhou seus familiares entre outras legendas. Se o Democratas fracassar, agora em outubro, perdendo a eleição majoritária e encolhendo seus sufrágios na eleição proporcional, adeus viola.
O partido irá marchar – e não quero, nem pretendo ser vidente – para uma grande diáspora, para um processo de desorganização com reflexos nacionais. O velho partido (com nome novo) irá se apequenar e os integrantes que se elegerem dificilmente ficarão unidos. Cada qual poderá ganhar outros caminhos, vinculando-se a outras legendas. Dessa forma, o espólio carlista em termos de votos e poder desaparecerá definitivamente, embora alguns ainda resistirão.
Outros possivelmente se afastarão da política e aqui cito, sem pretender fazer papel de ave do mau agouro, o próprio Paulo Souto, bastião maior do partido. Ressalvo que Paulo Souto continua, no que pesem as pesquisas recentes, um candidato competitivo ao governo do Estado.
Só que está abandonado pelos seus correligionários e tem dificuldades, segundo queixas dos próprios democratas a ele fiéis, de se deslocar para o interior porque não encontra, por falta de organização ou boa vontade, comitivas de recepção.
Em outros tempos, nos deslocamentos do carlismo para o interior, para determinado município, a recepção era feita por caravanas que se deslocavam dos municípios vizinhos, à frente os seus prefeitos e vereadores.
Havia disputa entre os cabos eleitorais para levar o candidato para almoçar na sua residência; havia desfiles escolares ridículos com crianças em filas acenando a bandeira da Bahia, e o candidato beijando a cabeça de cada uma. Era, enfim, uma festa, cujo ápice acontecia com o comício.
O palanque ficava de tão sorte pesado que algumas poucas vezes desabou. Como aconteceu com a presença do próprio ACM sobre um deles.
Virou filmete com divulgação nacional, mostrando o desabamento em câmera lenta.
Retomando a linha inicial, os candidatos ao senado se espicaçam mutuamente, principalmente envolvendo o senador César Borges, o vice de Wagner, Otto Alencar, e o democrata José Carlos Aleluia.
Isso é só uma espécie de aperitivo sobre o que acontecerá no horário eleitoral. José Carlos Aleluia não esconde que atacará. Geddel e Wagner trocarão farpas e poderá sair da dupla uma boa esgrima, envolvendo a gestão do Estado, o que foi feito o que não foi, e o que poderá acontecer no futuro. De vez em quando uma “piaba”, uma figura menor, se intromete. Entra sem ser chamado nas discussões.
São caçadores de mídia, de holofotes, que julgam aparecer falando para cima e deixando o patamar em que, politicamente, se encontra.
Na campanha presidencial, acontece algo semelhante.
Manifestam-se os principais atores, os candidatos a presidente, e a periferia, querendo dar pitaco, de modo a se credenciar para o futuro. Agora mesmo, registrou-se uma polêmica de certo modo hilariante, envolvendo o assessor de Lula, Marco Aurélio Garcia, que se julga uma espécie de suplente de chanceler e, volta e meia invade o espaço de Celso Amorim. Garcia estocou José Serra. Disse que ele correu para “a direita raivosa” e recebeu, como troco, uma relepada.
O tucano estrilou. Respondeu que os ataques partem de gente que “sequer é mais de esquerda”. E encaixou: “Acho troglodita de direita quem apoia Ahmadinejad, que esta matando mulheres a pedradas.
Uma ditadura que prende jornalistas e enforca opositores”.
O apoio e aproximação de Lula com a ditadura iraniana foi um dos fatos que mais marcaram a política exterior brasileira, diminuindo, e muito, o brilho que o presidente brasileiro havia conquistado.
O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, chamou ontem de “trogloditas de direita” aqueles que apoiam o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadineja.
Jornal ATARDE – Edição de 01/08/2010
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