Consórcio Conectar, que reúne Executivos municipais, encaminhou ao Ministério da Saúde ofício pedindo apoio da pasta para estruturação do atendimento ambulatorial e compra de testes rápidos e remédios antigripais
Bianca Gomes
06/01/2022 – 13:29 / Atualizado em 06/01/2022 – 20:26
SÃO PAULO — Para enfrentar o aumento dos casos de coronavírus e influenza no país, um grupo de mais de 2 mil prefeitos enviou um ofício ao Ministério da Saúde na quarta-feira solicitando apoio da pasta na estruturação do atendimento ambulatorial, compra de testes rápidos de Covid-19 e de remédios antigripais, atualmente em falta em várias cidades do país.
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O documento, obtido com exclusividade pelo GLOBO, foi encaminhado pelo Conectar, consórcio criado na pandemia para a compra de vacinas e que hoje atua em outras frentes da saúde pública. As mais de 2 mil cidades que fazem parte do grupo respondem por uma população de cerca de 150 milhões de pessoas, equivalentes a 65% do territorio nacional.
— A situação é alarmante. Precisamos de mais testes, mais estrutura e medicação — afirmou o presidente do Conectar e prefeito de Florianópolis (SC), Gean Loureiro, ao GLOBO. — Estamos assistindo a um crescimento vertiginoso do número de casos de Covid e influenza. Pedimos ao Ministério medidas emergenciais e apoio aos municípios. O governo federal não pode se omitir se os municípios não têm estrutura para atender a uma demanda inesperada.
Peso nos cofres municipais
No texto encaminhado ao secretário-executivo do Ministério da Saúde, Rodrigo Cruz, o Consórcio relata o esgotamento dos estoques do Oseltamivir, medicamento usado para tratar casos graves de influenza. Em alguns locais, como Ribeirão Preto (SP), há um apagão do remédio desde o início do ano:
— Não temos Tamiflu (como é conhecido o Oseltamivir). O medicamento só está presente em algumas estruturas particulares. É um fenômeno nacional e quem abastece o setor público com esse remédio é o SUS, através de aquisições do Ministério da Saúde e da distribuição logística do estado — disse o prefeito da cidade, Duarte Nogueira (PSDB).
Ex-coordenadora do Programa Nacional de Imunizações (PNI), a epidemiologista Carla Domingues lembra que é preciso levar em conta que não há medicamento para Covid-19, mas para influenza, sim.
— Sei que o ministério tem estoque estratégico guardado para essas situações. É preciso distribuir (o medicamento). Influenza exige leito de UTI, assim como a Covid, então precisamos evitar que chegue a esse nível e tenha uma dupla carga importante nos hospitais públicos — disse ela.
Em Ribeirão, a busca por atendimento médico aumentou em 56% de dezembro para cá, segundo Nogueira. Os prontos-socorros da cidade, que têm capacidade para receber até 600 pessoas por dia, já bateram quase 800 pacientes diários nas últimas semanas. A realidade, no entanto, não se restringe ao município do interior paulista. No documento do Conectar, os 2 mil prefeitos ressaltam que o aumento de novos casos de Covid-19 em conjunto com os de Influenza tem onerado sobremaneira os serviços de atendimento ambulatorial. “As unidades de atendimento à população, por mais que tenham tido a expansão necessária, estão sendo demandadas para além de sua capacidade de atendimento”, afirma o texto.
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Os mandatários avaliam ainda que apesar de os atendimentos ambulatoriais não resultarem em internações e ocupações de leitos, a espera para realização de exames e prescrição de receita de medicamentos antigripais tem sido para além do esperado. Por isso, seria importante o apoio do Ministério na ampliação temporária dos atendimentos, seja na forma de profissionais ou de estruturas físicas para aumentar a capacidade e a capilaridade da prestação do serviço.
Na cidade de Canoas (RS), cerca de 40% dos testes de Covid-19 realizados este ano deram positivo. De acordo com o prefeito Jairo Jorge (PSD), apenas nos últimos dois dias, a cidade testou mil pessoas, muito além da média de 170 diagnósticos diários registrada em semanas anteriores. Diferente da última onda da doença, em que casos graves demandaram profissionais na UTI e mais leitos de enfermaria, o atual cenário requer reforço na atenção primária, ou seja, nas unidades básicas de saúde, diz Jorge.
— Precisamos de recursos. Vamos ter que ampliar unidades básicas, contratar médicos, enfermeiros, pagar horas extras. Em 2020, tivemos recursos importantes do Ministério da Saúde, mas no ano passado as cidades se viraram com recursos próprios. Precisamos de apoio, senão teremos um desequilíbrio — afirmou o prefeito, que ainda tem o estoque de 100 mil testes. — Em determinado momento não teremos mais capacidade de comprar testes.
O Consórcio, que foi formalizado no ano passado como uma autarquia pública, também pede pela ampliação da testagem para identificar aqueles que precisam de isolamento e assim conseguir frear a transmissão da doença, em especial sob a nova cepa Ômicron.
“Pedimos o reforço do envio de teste de antígeno, bem como o apoio a estruturas fixas e móveis de testagem, seja na forma de equipamentos ou financiamento para garantir a contratação das estruturas e das equipes temporárias para apoio da testagem”, afirmam os prefeitos no documento encaminhado ao governo federal.
O monitoramento dos casos, segundo a ex-coordenadora do PNI, é ainda mais importante com a variante Ômicron, que tem transmissão rápida.
— Apesar de ter menor gravidade quando comparada à variante Delta, a Ômicron contamina mais pessoas. Assim, uma pessoa com Covid que antes transmitia para três indivíduos, agora pode transmitir para 20, o que aumenta a chance de ter casos graves e até precisar de leitos de UTI. Por isso a testagem é fundamental. Sabendo da velocidade da transmissão, é possível planejar ações com antecedência e evitar mais contaminados — disse Carla.
Loureiro afirmou que espera uma resposta rápida da pasta, no máximo até a próxima semana:
— Estamos dando o diagnóstico. Agora é só agir nessa distribuição e apoio — afirmou.
Fonte: O GLOBO
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