Por: João de Tidinha
Nesse último sábado encontrei um amigo em frente ao Espaço Acre, onde conversamos sobre a mudança ocorrida na cidade em função da transferência da feira para o Centro de Abastecimento. Ele me dizia que infelizmente acabou a tradição e cultura da cidade, que tinha na feira livre aos sábados o seu expoente e uma referencia regional.
Lembrávamos que o primeiro núcleo populacional do Município foi na fazenda do Cumbe do Major Antonino e foi nessa área que ocorreu a primeira feira livre. Com o crescimento da feira, veio o progresso e nasceu o povoado denominado por Nossa Senhora do Cumbe, hoje a cidade de Euclides da Cunha.
Lembrávamos também que a feira já foi no passado motivo de disputas políticas entre o Major Antonino e o Capitão Dantas. Quando o primeiro estava no poder colocava a feira na Praça da Igreja e quando o segundo assumia transferia a mesma para a Praça Duque de Caxias (Praça do Jardim).
No final da conversa o meu amigo se despediu e numa mistura de sentimentos de decepção e tristeza me pediu: “João, quero minha feira de volta!”.
De fato a feira livre de Euclides da Cunha – conhecida como a melhor em toda região – era uma grande expressão social, cultural e também de lazer para muitos euclidenses. A feira era onde as pessoas se encontravam e onde se encontrava de tudo. Entre cores, aromas, sabores e movimentos, quem ganhava era a população, mais que isso, quem ganhava era o Município, que numa espécie de supermercado a céu aberto, via sua economia, suas culturas, potencialidades e tradições se manifestarem freneticamente em um só lugar. Mas tudo isso acabou, a nossa tradicional feira já não mais existe. É como se tivéssemos perdido a nossa identidade.
Já ouvi argumentos favoráveis a transferência da feira para o Centro de Abastecimento no sentido de que era necessário modernizá-la. O que eventualmente deve ter faltado à gestora atual ao tomar uma atitude tão radical tenha sido a falta de planejamento.
Pessoalmente sempre fui contra essa transferência da forma como a mesma foi efetuada e acredito que mais do que “modernizar” a nossa feira, talvez melhor mesmo teria sido adequá-la as normas de vigilância sanitária, incentivar os comerciantes a desenvolverem seus negocios e revigorá-la tendo em vista a sua grande importância para o Município.
Creio que se tivéssemos revitalizado o açougue, ordenado o transito de veículos, proibindo o acesso de ônibus e caminhões no centro da cidade aos sábados, desviado o acesso dos caminhões vindo da BR por fora da cidade, poderíamos concluir que talvez não fosse necessário a transferência da feira. E aí poderiam me perguntar: o que fazer com o Centro de Abastecimento? Esse foi outro erro desde o início da sua concepção. Contudo, não se corrige um erro praticando outro. Para não ficar sem resposta, poderia sugerir que fosse avaliada a possibilidade do Centro de Abastecimento se transformar num entreposto de secos e molhados (depósito de estoque regulador de feijão, milho, farinha, etc.), mercado de exposição de produtos artesanais, bem como se tornar o local para realização da feira de animais vivos (hoje alocada em um lugar distante, no Parque de Exposição).
Já ouvi minha sogra D. Olguinha dizer que para ela a feira acabou, pois antigamente ela própria fazia suas compras e ia ao açougue comprar a carne. Hoje, devido a distancia e ao desconforto, ela faz suas compras nas diversas quitandas de frutas e verduras e em pequenos frigoríficos que se proliferam no centro da cidade.
Certa vez li no “site euclidesdacunha.com” uma matéria do Zé Dílson relatando o seu encontro na feira com o Ismael Abreu e o Celso Amorim comendo uma buchada de carneiro na barraca da Maria e do Peba, por onde passava a prefeita Fátima Nunes a fazer a sua feira e distribuir sorrisos e simpatias para todos. Creio que essa cena jamais se repetirá. Por tudo isso estou inclinado a concordar com o meu amigo e também vou pedir: “Prefeita, quero minha feira de volta!”.
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