No município de Canudos, 410km de Salvador fica localizado um dos mais exuberantes terrenos do semi-árido baiano, o Raso da Catarina. Inicialmente pertencente a índios da tribo Pankararés, atualmente a localidade é uma Área de Proteção Ambiental (APA) e Estação Ecológica, fiscalizada pelo Ibama. Com 99.772ha a reserva abrange ainda parte dos municípios de Paulo Afonso, Rodelas e Jeremoabo. A área é dividida em reserva biológica e indígena onde vivem os pankararés, que são donos de 29 mil hectares. A área de reserva biológica de caatinga é considerada única no mundo.
O Raso recebe esse nome porque seu relevo é quase toda sua totalidade, plano com vegetação rasteira e Catarina é em homenagem a proprietária da Fazenda Catarina, que existe até hoje na região. Conta a lenda, que a fazendeira lutou contra a seca, mas foi derrotada por uma nuvem de gafanhotos que devorou a plantação de milho e feijão, deixando-a em estado de loucura e sozinha até o fim da vida. Dizem que seu espírito vaga a localidade ajudando vaqueiros a encontrar animais perdidos.
A seca é comum no Raso. Com temperatura que chega a atingir 43 C é difícil até se refrescar nos rios que cortam a região, pois a grande parte tem vida curta e o único que se mantém é o Vaza-Barris que forma o açude de Cocorobó. É difícil encontrar água por lá. É preciso muita sabedoria e astúcia, já que elas se escondem nas depressões nas rochas ou em locais onde o lençol de água subterrâneo fica próximo a superfície.
PERÍODOS DE SECA – Quem por lá habita, sobrevive por longos períodos de seca, já que com o solo árido, plantação não faz efeito. A saída é a criação de cabras e ovelhas, animais que resistem a esse tipo de solo e o sertanejo consome sua carne, porém o leite é reservado para os filhotes dos animais. O gado é criado solto e por muitas vezes, pode-se ver um típico vaqueiro, vestindo sua indumentária tradicional em couro a procura do animal. As crianças também são criadas soltas e passam o dia brincando, escalando os grandes e íngremes paredões do cânion correndo atrás de mel de abelha ou subindo em árvores para colher seu fruto. Criadas nesse ambiente, muitas delas não possuem nenhum outro tipo de referência de vida.
A primeira vista, parece um território desolado, onde só brotam cactos, bromélias e imbuzeiros. Mas basta uma chuva leve para que a passagem acinzentada se transforma em verde. Nessa área localizada no Nordeste da Bahia, convivem vaqueiros, sertanejos, milhares de espécies de plantas (xiques-xiques, mandacarus, coroas de frade, os facheiros, as palmatórias etc), centenas de animais pouco conhecidos da ciência (arara azul de lear) e uma sociedade de índios panklararés.
LAMPIÃO E CONSELHEIRO – O Raso da Catarina foi cenário de aventuras e esconderijo de dois famosos cangaceiros, o líder social Antonio Conselheiro, fanático religioso e revolucionário e o cabra-macho Virgulino Ferreira da Silva, mais conhecido como Lampião. O Homem Santo, como ficou conhecido Conselheiro, lutava pela justiça social afirmando que “roubar para se alimentar, não é crime” e com essa máxima ele ganha notoriedade entre os sertanejos e se torna uma “figura Santa” entre os homens. No ano da libertação dos escravos pela princesa Isabel (1888), muitos dos escravos libertos, sem residência e trabalho viajam em busca do “Bom Jesus” e encontram em Conselheiro um líder religioso e social.
É nas mediações do Raso da Catarina que ele se esconde em uma fazenda abandonada em 1893, junto com sua tropa de ex-escravos. Três anos após, ocorre uma das mais sangrentas guerras nordestinas, a Guerra de Canudos. “Armados até o dente”, os fanáticos seguidores de Conselheiro eliminaram três expedições do governo liderado pelo Capitão Antônio Moreira César, o “Corta-Cabeças”. Em 1897 o Exército Brasileiro monta um pelotão que tinha proposta de exterminar os “malucos” de Conselheiro e conseguem o feito de forma mais covarde. Antonio Conselheiro morre em 22 de outubro de 1897 vítima de ferimentos causado pelo massacre. A tropa militar retira seu corpo da sepultura e sua cabeça é levada para a Escola de Medicina de Salvador, que baseado no visão preconceituosa do determinismo europeu acreditava que a “loucura”, a “demência” e o “fanatismo” podiam ser explicados na mistura de raças e nas características faciais do considerado “monstro dos sertões”.
Entre as décadas de 1920 a 1930 o Robin Hood do sertão, o cangaceiro Lampião, roubava dos ricos para entregar aos pobres, mas a história desse terrível forasteiro começa quando ele resolve vingar a morte de seu pai, José Ferreira dos Santos e se alista na tropa do cangaceiro Sinhô Pereira. O Sinhozinho abandona a tropa e dá todo o poder a Lampião que passa a invadir cidades nordestinas. Antes da invasão, ele mandava uma solicitação pedindo ajuda aos prefeitos da época; caso a ajuda fosse negada, ele saqueava a cidade e se tornou assim, o bandido mais temido do nordeste brasileiro. Em 1938, a volante comandada pelo Tenente João Bezerra localiza Lampião, Maria Bonita (sua esposa) e seu bando, mata e decepa suas cabeças, que ficam expostas na escadaria da prefeitura da cidade de Piranhas (AL) e depois seguem para “estudos científicos” no Instituo Médico Legal, Nina Rodrigues em Salvador. (Fonte: Ascom da UPB. Gutemberg Cruz).
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