NO CAMPO POLÍTICO, ESTA RESISTÊNCIA A MUDANÇAS PODE CAUSAR GRANDES ESTRAGOS E MUITAS DIFICULDADES AO PLENO EXERCÍCIO DA VIDA DEMOCRÁTICA
José Carlos Alcântara
Os seres humanos, as coisas e os ambientes estão em permanente estado de mudança. Embora nós sejamos todos sempre muito resistentes às mudanças. Por mais que insistam em dizer o contrário, os indivíduos são mesmo, em geral, muito conservadores. Às vezes eles até admitem certas mudanças quando lhes convém. Para poder dar aquela impressão de modernidade, de estar a par da tecnologia mais recente e ser atualizado, por acompanhar o dia a dia do que está sendo publicado em jornais e revistas, ou em documentários que são transmitidos pela televisão. Se não, vão até pensar que estamos parados no tempo por não seguirmos as transformações e podemos até ser tachados de provincianos.
E sobre política? Nós admitimos que possam haver mudanças? Todos se apressam logo a dizer que sim… Mas é justamente nessa questão que somos mais resistentes. Dizemos que somos democratas só para agradar os que poderiam nos considerar conservadores ou reacionários. Mas esta resistência a mudanças no campo político pode causar grandes estragos e muitas dificuldades ao pleno exercício da vida democrática. A alternância do poder é um princípio fundamental da democracia.
Fala-se muito pouco de alternância quando se está no poder e fala-se muito sobre este assunto quando se está fora dele. Quem se habituou a estar por cinco, dez, quinze, ou vinte e tantos anos no poder foge da palavra alternância como o diabo da cruz, podendo se servir, de acordo com as circunstâncias, de pelo menos um desses três usos gerais que fazemos do poder:
1. O poder sobre, que é aquele usado para fazer outra pessoa agir de determinado modo, que também é chamado de dominação;
2. O poder para, que dá aos outros os meios para agir mais livremente por si mesmos, que também é chamado de capacitação;
3. O poder de, que pode nos proteger do poder dos outros, que também é chamado de resistência.
Ao longo do tempo, os interesses, as cumplicidades, algumas amizades e certas simpatias vão aos poucos se sedimentando, criando vínculos… Quando estamos há muito tempo num lugar, acabamos por considerar que ele é nosso. Que podemos utilizar aquele lugar, sem nem mesmo ter que ouvir a opinião dos outros ou sem perguntarmos nada a ninguém. Nós utilizamos então as mais estúpidas artimanhas para tentar contornar a democracia, a legalidade e o legítimo poder. É muito constrangedor observarmos como algumas pessoas pretendem ignorar essas mudanças efetivas que legitimam o poder que, afinal, “é outorgado pelo povo e em seu nome deve ser exercido”.
Que mal há em se pertencer a uma minoria? Mas como é que podemos aceitar com humildade certas contingências políticas para tentarmos, quando for necessário, e por via democrática, alterarmos uma situação presente? Todos nós, num determinado momento, já fizemos, fazemos, ou faremos parte de uma minoria qualquer. Seja ela política, religiosa, estética, filosófica, ou até mesmo de torcedores esportivos. Às vezes, vale muito mais a pena pertencer a minorias. Pois quem é que pode afirmar que são sempre as maiorias que sempre têm razão?
José Carlos Alcântara é colaborador do Jornal Primeira Hora, do Rio de Janeiro, e consultor de empresas
Fonte: brasil247
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