Câmara Federal e Senado da República amanheceram quase vazios nesta quarta feira de Cinzas. Senadores e deputados recolheram-se, simbolicamente polvilhados, não tanto para um exame de consciência ou contrição dos pecados, senão pela folia habitual de retardar o trabalho que lhes é cobrado e procrastinar decisões urgentes.
A sessão na Câmara sequer foi aberta. No Senado, raros parlamentares enalteceram o Dia Internacional da Mulher, comemorado na véspera.
Para o restante da semana não estavam marcadas sessões deliberativas (com votação em plenário), nas duas casas.O Carnaval deles costuma durar mais que o dos foliões comuns: 11 dias, este ano.
Porque somente na terça-feira, 15, a comissão especial de reforma política se reunirá para definir uma agenda de trabalho.
Nesse dia poderá bater na Câmara, em regime de urgência, o projeto do Executivo que corrige a tabela do Imposto de Renda na faixa dos ínfimos, para os contribuintes e economistas, 4,5%.
Sem controle de presença, muitos parlamentares antecipam o feriadão, com o sacrifício de sessões de votação e queda de produtividade à beira do zero.O presidente do Senado, José Sarney, justifica:o Carnaval é mesmo irresistível. No parlamento sueco descontam as faltas injustificadas. Aqui, paga-se tudo.
Tais concessões abusivas e conduta relapsa deviam constar, aliás, da pauta da reforma política, a bem do decoro parlamentar. Mas haverá em sã consciência quem ainda acredite nesta possibilidade? Não será por falta de estímulo pecuniário que eles se poupam. O piso do trabalhador é de R$ 545, este ano, enquanto a remuneração de senadores e deputados federais foi fixada–e por eles próprios – em R$ 26,7mil; e o salário de um deputado estadual ficou em R$ 20 mil.O reajuste de 61,8% equivale a três vezes a inflação apurada entre 2007 e 2010, de 19,9%, considerado o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), adotado para cálculo da meta da inflação no País.
Transcrito do Jornal ATARDE- Edição de 11/03/2011
Leave a Reply