Salários de Luxo

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EDITORIAL
Quase em sigilo, sem debate, sem justificativa, com grande rapidez e em votação simbólica, o Congresso repetiu a prática de legislar em causa própria: equiparou os salários de deputados e senadores aos dos ministros do Supremo Tribunal Federal (R$ 26.723,13). O reajuste contempla o presidente, vice-presidente da República e ministros, com iguais valores.

“Cheguei com sorte”, comentou o novo deputado Tiririca (PR-SP), que trocou o figurino de palhaço pelo paletó e gravata, mas conciliará o desempenho circense com a função parlamentar. Apesar da oposição inicial de alguns parlamentares, não houve corte nas verbas de custeio (R$ 15 mil) e de gabinete (R$ 60 mil), além de outras vantagens.

Parlamentares europeus morrem, a essa altura, de inveja:o dinheiro do contribuinte não lhes dá luxo e regalias. Na Suécia, por exemplo, eles dividem cozinha e lavanderia comunitária e vivem em apartamentos de 40 m². Não têm secretária e assessores. Na Grã-Bretanha, o transporte é por conta de cada um.

Aqui, formam uma casta de privilegiados que atropela aética e a decência; ganham o que acham que devem, não o que merecem, ainda mais que quase metade estará ausente na próxima legislatura, a instalar-se a 1º de fevereiro de 2011. Os raros protestos contra o aumento ocorreram após o bater do martelo.

Os reajustes colidem contra a tarefa mais árdua do novo governo, que será o corte de gastos dos poderes para tentar frear indícios de inflação. Para cobri-los, haverá remanejamento de verbas do Congresso –o que deveria ser feito para reduzir orçamentos, não para compatibilizá-los com altos acréscimos nas despesas.

Calcula-se um impacto direto de R$ 1,96 bilhão por ano nos cofres do Legislativo e Executivo, considerados os encargos trabalhistas, aposentadorias e pensões, e sobretudo o efeito cascata nos salários das Assembleias Legislativas e Câmaras de Vereadores. O reajuste dos trabalhadores foi de 34%; o dos parlamentares, 61,83%.

Editorial jornal ATARDE- Edição de 17/12/2010

 

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