Hélio Pólvora Escritor, membro da Academia de Letras da Bahia hpolvora@gmail.com
Apesar de vencedor – chegou a presidente do Brasil duas vezes, viajou muito, posou de estadista, distribuiu cargos e outros favores como bem quis, e agora dispara a sua candidata – o presidente Lula ainda não se dá por satisfeito. Quer mais. Talvez pense no modelo chinês, em que o Estado todo-poderoso aplica práticas capitalistas enquanto pisoteia internamente as liberdades.
Apoiado em pesquisas de opinião (até onde crer na metodologia?) que lhe conferem popularidade além dos 80%, privilégio de raros líderes, alguns deles ditadores, o presidente voa alto. O ego, inflado, estoura – e nas borbulhas surgem projetos e intenções indignos dos ideais republicanos.
Ameaças de um Estado gigantesco, aparelhado para desdobrar-se por si próprio, de pleito em pleito, pesam aqui, no rastro de vizinhos continentais temerosos de defenestração próxima. Sob um bombardeio diário de farsas, corrupção, crimes hediondos, ataques do narcotráfico, índices rasteiros de educação e saúde, o País parece anestesiado pela violência. Só tem olhos, ouvidos – e pernas, bem entendido – para a violência.
Passam em branco indícios do que pensa e de como pretende agir um presidente. Dias atrás, em Recife, ele produziu uma de suas frases de quem se julga nos braços do povo.
Já houve outros (a história é farta) que assim se julgaram. Em Recife, que não é um dos seus redutos eleitorais, mas está no Nordeste do Bolsa Família, o presidente anunciou: “Penso em criar um organismo muito forte, juntando todas essas forças que nos apóiam, para que nunca mais a gente possa permitir que um presidente sofra o que eu sofri”.
A declaração grave provocou poucos comentários. Li um, na revista Época–e seu signatário estava indignado com a anestesia da sociedade brasileira. De fato, dá o que pensar. Que “organismo muito forte” será este? E a quem se dirige, em primeira instância?
No Brasil atual as perguntas morrem de inanição. A Receita Federal foi instada a explicar a quebra de sigilo de quatro políticos oposicionistas. Continua fechada em copas. Se duvidarem, a Rainha de Copas encara o indagador e brada: “Cortem-lhe a cabeça!”
Transcrito do Jornal ATARDE – Edição de 05/09/2010
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