Entrevista publicada no JORNAL ATARDE
A senadora Lídice da Mata (PSB) parece disposta a disputar a eleição de governador em 2014 independentemente do governador pernambucano Eduardo Campos (PSB) entrar ou não na corrida presidencial. Lídice cogita lançar sua candidatura mesmo na hipótese de a base dos partidos que apoiam o governador Jaques Wagner escolher outro nome.
A candidatura da senhora ao governo baiano está vinculada à eventual candidatura de Eduardo Campos à Presidência da República?
Minha candidatura é independente de uma ligação com a candidatura de Eduardo. É claro que se ele for candidato, necessariamente, nós teremos uma candidatura na Bahia. Mas eu pretendo ser candidata independentemente disso. Aliás, anunciamos antes de Eduardo anunciar a possibilidade de ser candidato. Ela (a candidatura) atende areflexões e necessidades da Bahia. Primeiro, nós passamos um pouco mais de vinte anos para derrotar o carlismo e conseguimos sob a liderança de uma pessoa com muita sensibilidade para representar a antítese de Antonio Carlos Magalhães. Ou seja, um líder leve, capaz de negociação, delicado que, com seu estilo, faz uma ruptura profunda da forma de governar a Bahia. Ele não rompe pelas alianças que foram feitas, mas pela forma como se coloca como líder na Bahia a partir de então.
O governador Wagner é o líder desse processo…
Um processo que tem enraizado a ideia da democracia. É isso que torna Wagner diferente. Que dá valor ao projeto político de Wagner. Um valor feito pela história política de todos nós e, segundo, pela sua característica pessoal, pela sua forma de liderar, agregando de forma democrática, leve, delicada, exatamente o oposto que nós tivemos como líder até então no nosso Estado.
Mesmo atraindo segmentos do carlismo? Não acabou sendo leve demais?
Acho que não. A leveza é dada pela forma como você pode garantir os seus objetivos. Não acho que Wagner se descolou dos objetivos de construção de um projeto democrático na Bahia, pelo contrário. Hoje não tem prefeito ou liderança política que possa dizer que teve discriminação. Como o mal a gente esquece rápido, em tempo de bonança as pessoas esquecem o que a Bahia viveu. Mas, na minha memória como política, tenho obrigação de manter viva essa referência.
Por isso, sua candidatura, para manter essa diferenciação do que é do que era a Bahia no passado?
Minha possível candidatura nasce desse projeto político que nós estamos implantando na Bahia e pelo fato de acreditar que num projeto de frente partidária, diferente de um contexto de um projeto de partido, não deva ter apenas uma sigla a comandar essa frente. Nesse sentido acho que estou qualificada para me colocar como um dos nomes. Fui vereadora, deputada federal constituinte, primeira e única prefeita de Salvador, depois deputada estadual por dois mandatos, voltei a ser deputada federal e hoje sou a primeira mulher senadora da Bahia. Todos os nomes colocados são bons. Nós, que vivemos num tempo que não havia nomes para colocar na disputa, agora temos demais. Meu partido também tem o direito de sonhar. Cada partido, com seu desejo como existência partidária, pode ter alguém que represente seu projeto de governo. O PSB deseja isso, acha que deu uma contribuição efetiva à construção da primeira chapa pela qual Wagner concorreu, deu contribuições também à do segundo mandato. As tarefas que assumimos pelo governo, as fazemos bem, buscando acrescentar valor à confiança que o povo da Bahia e o governador nos dedicaram. Tudo isso nos credencia.
Estou enganado ou a disposição da senhora para disputar o governo está agora bem mais forte que há pouco tempo? Me parece que a candidatura está definida.
Não é definida. Estou lutando para ser uma candidata da base do governo. Vejo as pessoas comentando: “É Pinheiro primeira opção de Wagner, é Rui, o plano A, o plano B”. Eu acho que sou o plano A de Wagner, sua primeira alternativa porque minha candidatura pode representar a maior agregação política para a candidatura que o governador pode apresentar à sua sucessão. Venho dessa história política e não sou do PT. Portanto, não dou à chapa uma característica de exclusivismo político que uma candidatura do PT, seja qual seja ela, terá.
A senhora vê apenas o cenário de ser a candidata de Jaques Wagner ou pode lançar uma candidatura no primeiro turno concorrendo com a do PT, já que é difícil o partido abrir mão da cabeça da chapa?
É difícil, mas não é impossível (o PT abrir mão). Meu primeiro movimento é: quero ser a candidata da base do governo. E quero discutir com todos os partidos da base, inclusive o PT e creio não ter por que o PT não me apoiar, pois já o apoiei inúmeras vezes para muitas coisas. E, muitas delas, abrindo mão de ser candidata. Então, não há por que o PT colocar qualquer restrição a discutir um nome da base. Não vejo o processo político como um processo matemático: “é o PT porque é o maior partido da base”. Não é isso. O que não quer dizer que eu não possa ser candidata sem ter sido escolhida o nome da base. O governo pode ter dois candidatos. Wagner já teve nas eleições municipais de Salvador mais de um candidato.
E a senhora já conversou com o governador Wagner sobre sua candidatura?
Claro. Desde a eleição de prefeito passada quando discutimos a possibilidade de retirar nossa candidatura para apoiar Nelson (Pelegrino, candidato do PT) com lealdade, disse: “Não acho que seja justo ter que apoiar o candidato do PT na eleição de prefeito passada, o candidato do PT à eleição agora, o candidato do PT ao governo”. Só fala em candidato do PT. Não é possível, senão nós começamos a entrar num contexto que não é de criação coletiva. E repetiremos ACM e sua metodologia. E Wagner tem o mesmo entendimento que eu. Por isso acho que posso ser sua candidata. Ele é destituído desses limites de pensamento partidário.
A visão de alguns nomes da base é que, para se escolher o nome, deveria haver uma pesquisa de intenção de voto. A senhora concorda?
Se fosse por pesquisa, Wagner nunca seria candidato, nem estaria governador da Bahia. Acho que não é só pesquisa o fator definidor. Serve como referência de quem naquele momento tem o maior acúmulo de popularidade. Mas é preciso agregar mais coisa: a capacidade de unir, a representação política, agregar o valor acumulado no processo político eleitoral, por isso meu nome se coloca muito bem. Nós estamos num século da mulher do ponto de vista político, da revelação da mulher na sociedade brasileira, sua afirmação. Temos uma mulher no comando do País, nunca tivemos uma governadora na Bahia. Temos a necessidade do Brasil discutir o pacto federativo devido à concentração excessiva de recursos financeiros nas mãos do poder federal, sem a distribuição necessária, o compartilhamento maior de estados e municípios. Sabemos que o município é a parte mais frágil da cadeia de poder e eu fui prefeita, sei das necessidades dos prefeitos. Talvez essa seja a única fragilidade dos governos que vivemos pós-Collor: nunca tiveram a experiência de governar uma cidade, por isso tem muita dificuldade de compreender que mesmo quando um projeto, uma política pública é importante de ser aplicada lá na base, se ela não tem uma fonte de financiamento permanente, é impossível para o prefeito viabilizá-la. Não adianta construir creches se o prefeito não tem verbas para manter.
A senhora é um dos poucos nomes da base que teve experiência de executivo…
Eu e o ex-prefeito Luiz Caetano. Só que Luiz Caetano não é mulher. Essa é a minha vantagem.
A convicção nesse momento da senhora é que o Eduardo Campos vai se candidatar?
É difícil dizer. Nesse momento, Eduardo tem aparecido muito na mídia, forças vão se reunindo em torno dele. Não posso dizer que ele não será candidato, mas afirmar taxativamente que será a qualquer custo também não acredito. Ainda há espaço de negociação ou pelo menos de interlocução. E principalmente, sendo Eduardo candidato a presidente, não será de oposição a Dilma, que negará a contribuição que teve no projeto de construção de Lula e de Dilma.
Mas no programa de TV, Eduardo Campos disse que pode fazer melhor…
Claro. Ele vai dizer que vai fazer pior? Qualquer candidato vai dizer que fará o melhor. Aliás, a Dilma, no programa dela disse que vai fazer mais.
Essa “fazer melhor” não foi uma frase de oposição?
Não creio que seja discurso de oposição. Discurso de oposição é muito mais agressivo. Aliás, o discurso do PSDB foi de apresentar um projeto para se contrapor ao do governo. Nós estamos representando na Bahia esse projeto popular. E Wagner, além do componente da mudança da cultura política da Bahia, talvez sua obra maior, também representa hoje uma transformação econômica muito grande do Estado, diferente do que alguns falam.
A senhora tem uma data para definição do anúncio da candidatura?
Acho que não temos que ter essa data. Aliás, acho ter sido um equívoco o PT, como partido do governador, colocar uma necessidade de debater já, com data marcada em setembro a candidatura. Isso é um tiro no pé do governo.
Como a senhora vê o flerte do secretário José Carlos Aleluia com a base do governo Wagner?
Tudo é engraçado na Bahia atualmente. Tenho uma visão particular disso, mas acho positivo que Wagner e ACM Neto estejam se entendendo bem e estejam demonstrando que é possível ajudar e ter compromisso com Salvador mesmo não sendo do mesmo partido. Wagner, ao fazer isso, desmente um pouco o mote de campanha do PT nas duas últimas eleições quando se dizia que só era possível governar com os três elementos de poder do mesmo grupo. Não acredito nisso como elemento democrático. Mas vejo tudo isso como muita alegria e ironia, imaginando o que pensaria o avô de ACM Neto. Talvez tivesse aplaudindo que alguém fosse capaz de fazer por Salvador e pelo neto dele o que ele (ACM) não foi capaz de fazer pela cidade quando eu fui a prefeita.
Entrevista publicada no JORNAL ATARDE- Edição de 13/05/2013
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